mercredi 12 janvier 2011

Vitória da direita implica uma mudança de regime e da democracia


Manuel Alegre no comício de Faro

Manuel Alegre colocou esta noite no comício em Faro a questão essencial do que está em causa nas eleições de 23 de Janeiro como uma mudança de regime e de destruição do Estado social. Para o candidato, este é o confronto entre um projecto progressista e um projecto conservador e restauracionista.


No comício no auditório Maria Campinas em Faro, começou por se prestar homenagem a Vítor Alves, um emblemático capitão de Abril que desapareceu a semana passada, e ao poeta António Aleixo. Com a deputada do Bloco de Esquerda a iniciar a sua intervenção a abrir o comício, o mandatário distrital da candidatura, Luís Filipe Madeira, subiu ao palco para pedir uma salva de palmas em homenagem a um “herói do 25 de Abril”.
Manuel Alegre, iniciou por sua vez o discurso citando um poema de António Aleixo – o pão que sobra à nobreza/ repartido com razão/ matava a fome à pobreza/ e ainda sobrava pão – para colocar a questão essencial destas eleições como uma mudança de regime e da democracia, alertando que “a direita quer o poder todo para acabar com o Estado social”, enfraquecendo a democracia.
Considerando que este é um confronto entre um projecto progressista e um projecto conservador e restauracionista, Manuel Alegre denunciou que Cavaco Silva tem os que mais têm e menos sofrem na sua comissão de honra.“Temos de decidir se queremos um Presidente que esteja perto daqueles que mais sofrem, ou um Presidente que esteja mais perto dos que mais têm e dos que menos sofrem – e que são aqueles, quase todos, que estão nas suas comissões de honra e política”, afirmou o candidato.
Na questão de regime, Manuel Alegre traçou as diferenças da sua candidatura pelos “ valores” e pela República. “Candidato-me por uma República entendida como serviço público, como primado pelo interesse geral, contra o clientelismo, contra o amiguismo, contra a promiscuidade entre negócios e política e pela subordinação do poder económico ao poder político e democrático”, sublinhou.
Manuel Alegre vincou ainda as suas diferenças em relação a Cavaco Silva ao nível da concepção do mundo e da cultura, acusando-o de ter uma lógica estritamente tecnocrática e de confundir o país com um manual de finanças. “O Presidente da República não pode comportar-se como um aluno bem comportado, de forma acrítica, porque não quero Portugal de joelhos, eu quero Portugal de pé, quero Portugal na Europa mas com uma voz crítica, defendendo a igualdade entre todos os Estados soberanos”, afirmou, recebendo uma prolongada salva de palmas.
Para Manuel Alegre, a força de Portugal “não está na economia nem no poder militar, mas na História, na cultura e na língua portuguesa”. “Precisamos de um Presidente que não confunda Portugal com um manual de finanças. A economia é importante, mas um país não é só economia, porque o país não é uma sebenta de finanças. O país é os Lusíadas, é a Mensagem de Fernando Pessoa, é Teixeira Gomes, são os seus grandes poetas e as suas grandes figuras”, contrapôs o candidato, que já tinha criticado a ausência do ainda Presidente no funeral de José Saramago, salientando que o escritor é até ao momento o único português Prémio Nobel da Literatura.
Antes de Manuel Alegre, discursaram os deputados Miguel Freitas, do PS, e Cecília Honório, do Bloco de Esquerda, e o seu mandatário distrital, Luís Filipe Madeira. O histórico socialista afirmou na sua intervenção que o candidato “merece por vezes críticas por ser insubmisso”, lançando um “viva a insubmissão”, e considerou o “caso das escutas” entre a Presidência da República e o Governo como um “crime de conspiração contra a República” de uma “gravidade extrema”, sobre o qual Cavaco Silva nunca disse nada.
11 de Janeiro de 2011

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