dimanche 31 octobre 2010

Um pato, uma comédia e uma certeza

É muito difícil entender por que diacho um político profissional com 30 anos de carreira, que foi primeiro-ministro e presidente da República, passa grande parte do seu discurso de recandidatura a dizer que é sério e honesto, que nunca diz mentiras, que não se dedica à intriga política (a despropósito: onde estaria Fernando Lima enquanto Cavaco Silva discursava?), que apenas pensa no País e nunca em si próprio.
Como não poderia deixar de ser, conhecendo nós Cavaco Silva, depois deste exercício de auto-elogio, a que não faltou o quase hilariante "isto está mau, mas estaria muito pior se eu não tivesse mandado uns recadinhos", seguiu-se a costumeira ladainha do "eu não sou político".
O nosso mais relevante e antigo político em actividade sabe muito bem onde quer chegar quando mistura no mesmo discurso a apologia das suas, com certeza óbvias, qualidades pessoais e a mentira descabelada de não ser um político profissional (pronto, o Presidente da República diz sempre a verdade, só desta vez é que não). A associação é evidente: os políticos são todos os tipos pouco sérios, pouco honestos, dizem sempre muitas mentiras, e pensam sempre primeiro neles e depois, se é que chegam a pensar, no País. Ele, como não é político, não tem estes defeitos.
Não há como negar que, como sempre, Cavaco Silva sabe ler os sinais. Ele conhece o tipo de sentimento que muitos portugueses têm pelos políticos. Ele sabe melhor que ninguém o que as crises provocam na relação entre os cidadãos e os seus representantes.
No fundo, o candidato Cavaco Silva não hesita em colaborar com a campanha contra os políticos se isso lhe trouxer mais uns milhares de votos.
Não sendo suficientemente graves os actos e palavras de alguns actores políticos sempre dispostos a sacrificar o prestígio da sua classe em função duma qualquer vantagem circunstancial, as declarações de juízes que afirmam sem qualquer tipo de pejo que uma das suas funções é fiscalizar o comportamento dos políticos - pensava eu que era única e exclusivamente fazer cumprir a lei -, ainda vem o mais importante político português contribuir para o desprestígio e para a descredibilização da classe de que depende o funcionamento da democracia.
O Presidente da República sabe que vivemos num período em que se pede grandes sacrifícios aos cidadãos, mais, em que se tem de dizer aos pais que os seus filhos vão viver pior do que eles. Sabe que existe um profundo descontentamento com as instituições democráticas e em que se põe tudo em causa. E também sabe, ou deveria saber, que estas circunstâncias são terreno fértil para o aparecimento de soluções messiânicas e de narrativas que pretendem pôr em causa a própria democracia.
Quer queira, quer não, Cavaco Silva está a contribuir para isso quando faz discursos como o de dia 26, e não é digno daquele que foi o melhor primeiro-ministro desde o 25 de Abril que o faça.
O discurso antipolíticos, temperado com frases do género "eu sou um homem do povo", ou parecida, vazio de ideologia, muito preocupado nos supostos problemas das populações, centrado nas qualidades pessoais do líder é típico dos populistas.
Como dizia o outro: se se parece com um pato, anda como um pato e fala como um pato, é muito provável que seja um pato.
... continua
In DN, por PEDRO MARQUES LOPES, 31/10/2010

O tendenciosismo existe

A falta de memória, a ignorância, ou o “tendenciosismo” * guia muitas vezes a mão de quem escreve.
A falta de memória pode ser uma doença incurável o que é de lamentar, mas que por vezes leva aos maiores dissabores.
A ignorância até parece que excita certos indivíduos, que quanto menos sabem, mais se exprimem... e toda a gente perde tempo a atura-los.
Mas o “tendenciosismo”* é demais, dá cabo da vida de um País, por mais pintado que seja; utiliza rumores, falsos testemunhos, contra verdades, em suma, todos os meios são bons para levar a água ao seu moinho! é do pior, e então quando o “tendenciosismo” é exercido por alguém que tem falta de memória e ainda por cima é ignorante, não vos digo nada!
Assim vai a política na nossa terra, nada está bem, por isso: que fique tudo na mesma!
Segundo as sondagens (mas não serão ela tendenciosas?) todos os que querem que esta situação se mantenha, que se continue a por óleo no fogo, em vez de tentar encontrar soluções novas, para sair de uma crise para a qual o actual Presidente tanto contribuiu, continuam a apoia-lo.
Já estamos à beira do abismo, força, mais um passo em frente...
É triste!
Aurélio Pinto

* Tendenciosismo – atitude nova, utilizada para estruturar a postura de alguns políticos em Portugal, mas também muito apreciada por certos média, da rádio Portuguesa de França aos mais variados suportes em Portugal, passando por alguns institutos de sondagens.

Manuel Alegre convoca Comissão Política da candidatura

Manuel Alegre convocou a sua Comissão Política para reunir pela primeira vez no próximo dia 8 de Novembro, às 21.00, no Hotel Altis, em Lisboa. Este órgão integra 67 elementos convidados pelo candidato e ainda, por inerência, os seus mandatários nacionais (Maria de Belém, António Carlos dos Santos e Jacinto Lucas Pires), regionais, distritais e de fora de Portugal, num total de 92 cidadãs e cidadãos. A lista dos 67 integra dirigentes e deputados dos dois partidos que apoiam a candidatura, dirigentes de outros movimentos cívicos e políticos, nomeadamente o MIC, dirigentes sindicais, autarcas e personalidades independentes.
Do Partido Socialista, integram a Comissão Política o presidente do partido, Almeida Santos, o vice-presidente da Assembleia da República, Vera Jardim, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, o presidente da Associação Nacional de Autarcas Socialistas, Rui Solheiro, e o presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, integram. Manuel Alegre conta agora com o apoio de socialistas que estiveram ao lado de Mário Soares em 2006, como Alfredo Barroso, ex-chefe da Casa Civil, Francisco Assis ou António José Seguro. Os Alberto Martins e Santos Silva são os dois únicos ministros na Comissão Política. Recorde-se que ambos foram apoiantes de Manuel Alegre no congresso socialista de 2004.
Do Bloco de Esquerda, integram a Comissão Política José Manuel Pureza, líder parlamentar, as deputadas Mariana Aiveca e Helena Pinto e o ex-parlamentar João Teixeira Lopes.
O secretário geral da UGT, João Proença, e os sindicalistas Ulisses Garrido e Carlos Trindade, ambos da comissão executiva da CGTP-Intersindical, entre outros dirigentes sindicais, também apoiam a candidatura.
A Comissão Política do candidato inclui as principais figuras do movimento Renovação Comunista: Carlos Brito, Paulo Fidalgo, Paulo Sucena e Cipriano Justo.
Do MIC estão presentes vários dirigentes, com destaque para João Correia, presidente da Comissão Coordenadora e José de Faria e Costa, Presidente da Assembleia Geral.Como independentes, figuram ainda André Freire, professor universitário, António Cruz Serra, presidente do IST, Isabel Castro, ex-deputada do partido ecologista Os Verdes, Luís Moita, professor universitário, Teresa Rita Lopes, mandatária nacional em 2006 e Helena Roseta, vereadora em Lisboa.
Lisboa, 31 de Outubro de 2010

Traz outro amigo também

http://www.youtube.com/watch?v=sPSbe2ROlB0&feature=related

AQUI AGORA

http://www.youtube.com/watch?v=1p8IBLUL8bU&feature=related

Manuel Alegre sobre presença da PSP num sindicato

http://www.youtube.com/watch?v=TJOsgTrkQEY&feature=related

Manuel Alegre na "Caixa de Pandora"

http://www.youtube.com/watch?v=2thcwaXC0aw&feature=player_embedded

Civismo ou Masoquismo?


Não posso deixar de partilhar este diálogo em português corrente, com pronúncias do centro sul e do norte que melhor o apimentava, ouvida num café parisiense, comentava-se da triste situação de crise que atravessa Portugal e do sofrimento que ela acarreta.
Dizia o do Norte: ...Pois, com estas políticas quem sofre sempre é o povo. Ao que o do Sul respondeu: claro, mas se os políticos estão lá no poleiro é porque o povo votou neles! Quer dizer, o povo vota nos que o faz sofrer! É ou não É?
Pois, mas assim não pode ser, mais vale não votar.
Então não vote, ainda sofre mais pois há sempre quem vote, e você acaba por sofrer na mesma e não fez nada para evitar isso.
Está bem, mas a ser preso por ter cão ou por não ter, mais vale estar quieto!
Nada disso homem, informe-se do que se passa, há sempre gente de boa vontade e de valor, por quem vale a pena votar. O trabalho dos que têm consentido que as coisas andem mal está à vista, escolha um que lhe pareça mais humano, mais justo, mas perto das pessoas, com capacidade de intervenção, bem visto por todo o Mundo, um homem Alegre que diabo!
E não se esqueça vá mesmo votar para não sofrer mais por causa dos votos dos outros.
Estou de tal maneira de acordo com esta conclusão que já nem sei se ouvi esta conversa ou se acabei de a inventar...
Aurélio Pinto

Intervenção de Manuel Alegre na Mesquita de Odivelas

http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.youtube.com%2Fwatch%3Fv%3D2wd4XKjVSVs%26feature%3Dplayer_profilepage%23!&h=f3bf3

samedi 30 octobre 2010

Manuel Alegre debate greve geral com CGTP e UGT

O candidato presidencial Manuel Alegre reúne-se terça-feira com os líderes da CGTP-IN e UGT, encontros em que estará em análise a greve geral convocada pelas duas centrais sindicais para o dia 24 de Novembro.

Nas duas reuniões com Carvalho da Silva e com João Proença, Manuel Alegre estará acompanhado pela sua mandatária nacional, Maria de Belém, e pelos seus apoiantes Paulo Sucena e Elísio Estanque.

Na carta que enviou aos líderes das suas centrais sindicais, à qual a agência Lusa teve acesso, Alegre sustenta que «a recente degradação das condições de financiamento de Portugal nos mercados internacionais, a par da apresentação do Orçamento do Estado para 2011 e da convocatória da greve geral conjunta das duas centrais sindicais para o próximo dia 24, impõe, a todos, uma reflexão sobre as opções do país num quadro de médio e longo prazo».
«Desse quadro de análise e reflexão não podem ser excluídos o papel dos sindicatos e a eleição do próximo Presidente da República - nem a importância dessa mesma eleição», acrescenta Manuel Alegre na sua missiva enviada a João Proença e Carvalho da Silva.
In SOL, por Lusa/ SOL, 30/10/2010

jeudi 28 octobre 2010

Alegre vai gastar menos que Cavaco

Cavaco Silva vai gastar mais 590 mil euros (mais 37%) com a campanha eleitoral para as presidenciais de 2011 do que o seu principal adversário, Manuel Alegre, apesar de ter prometido fazer uma "campanha sóbria e contida" nas despesas.

Na noite em que anunciou a recandidatura a Belém, Cavaco Silva sublinhou que não vai recorrer a outdoors e que a despesa total da campanha não ultrapassará metade do valor permitido por lei (4 260 000 euros). "Quando tantos sacrifícios são exigidos aos portugueses, os agentes políticos devem dar o exemplo", sustentou o presidente recandidato no Centro Cultural de Belém, perante familiares e notáveis.
Enquanto Cavaco Silva prevê gastar cerca de 2,1 milhões de euros, o candidato apoiado pelo PS e BE, Manuel Alegre, estima despesas de perto de 1,6 milhões de euros. Nestas verbas, estão reflectidos, de facto, cortes na campanha de Cavaco Silva em relação a 2006, em que o actual Chefe de Estado gastou 3,2 milhões de euros, naquela que foi a segunda campanha eleitoral mais cara da história portuguesa – só Mário Soares superou este valor, com gastos de 3,5 milhões de euros também nas presidenciais de 2006. Nesse ano, Manuel Alegre despendeu cerca de 850 mil euros.
No que se refere às restantes candidaturas, Defensor Moura avançou ao CM que prevê gastos na ordem de 250 mil euros. Francisco Lopes, do PCP, e o independente Fernando Nobre garantiram desconhecer, por enquanto, os gastos totais da campanha eleitoral.

APOSTA NAS REDES SOCIAIS
Para compensar a ausência de cartazes de campanha na rua, a candidatura de Cavaco Silva às presidenciais de 2011 aposta na propaganda através do site oficial e das redes sociais, à semelhança do que fez Barack Obama nas últimas presidenciais norte-americanas.
Assim, poderemos encontrar o percurso de Cavaco Silva no site oficial, Facebook, Twitter, Sapo vídeos, Vimeo, YouTube, Flickr e Foursquare. Também será através do site oficial e das redes sociais que Manuel Alegre concentrará a comunicação política de campanha. No que se refere a outdoors, o director de campanha, Duarte Cordeiro, garantiu ao CM que serão colocados apenas 450. A candidatura de Fernando Nobre optou, tal como Cavaco Silva, por excluir os cartazes "porque a situação do País exige um exemplo de contenção".
In Correio da Manhã, por Janet Frazão

Alegre diz que portugueses vão continuar a «sofrer bastante»


O candidato presidencial Manuel Alegre recomendou hoje aos responsáveis políticos que visitem instituições de solidariedade social para «aprenderem» sobre a situação do país, antecipando que os portugueses vão continuar a «sofrer bastante».
Em declarações aos jornalistas no final de um encontro com responsáveis da Cáritas, Manuel Alegre confessou-se «muito impressionado» com a «grande lição» de solidariedade social que recebeu de pessoas que trabalham contra a pobreza.
«Recebemos aqui uma grande lição de solidariedade social, um verdadeiro soco no estômago», afirmou.
Por isso, continuou, seria bom que os responsáveis políticos visitassem instituições como a Cáritas para perceber a verdadeira situação do país.
“Era bom que mais responsáveis políticos viessem aqui ouvir aquilo que nós ouvimos porque se aprende muito e se sai daqui com outra humildade, porque a situação do país é mesmo difícil e o esforço que faz a Cáritas e que fazem outras instituições desta natureza é importantíssimo”, sublinhou.
Questionado sobre a reunião do Conselho de Estado, que o Presidente da República convocou para sexta-feira, Manuel Alegre escusou-se a fazer comentários, reiterando apenas que se caso fosse chefe de Estado teria convocado aquele órgão “muito antes".
Manuel Alegre não quis também fazer comentários sobre a hipótese do Orçamento do Estado para 2011 ser chumbado, salientando que o que o preocupa neste momento “é a situação em que estão os portugueses, aqueles que estão a sofrer e aqueles que seja qual for o desfecho ainda vão sofrer mais”.
“É isso que realmente me preocupa e é isso que deve preocupar todos os responsáveis políticos do país”, sustentou, considerando que “os portugueses neste momento estão a sofrer e vão sofrer bastante”.
In Diário Digital / Lusa, 28 de Outubro de 2010

As presidenciais e a (des)mobilização do PS


O melhor que Manuel Alegre tem a fazer é reforçar o seu discurso crítico e o seu estatuto independente.

Entrámos no mês de Setembro, a escassos quatro meses da eleição presidencial. O homem que "nunca se engana e raramente tem dúvidas", também já não terá dúvidas (se é que algum dia as teve) de que é o candidato da direita. Dos quatro candidatos no terreno há um que pode projectar sobre si os holofotes sem precisar de se afirmar como tal. Cavaco Silva (CS) cultiva a imagem que mais votos pode render: a de um "Presidente-pai" protector, ponderado, discreto e responsável, que não se quer "sujar" na lama da política. Se pudesse, talvez acabasse com as campanhas. Ou seja, como qualquer chefe conservador ou tecnocrata, faz política contra a política. O debate de ideias, supostamente essencial em democracia, dá lugar ao monólogo, às frases vazias e banais, ditas com o habitual ar sisudo ou emolduradas pelo sorriso amarelo a que obriga a pré-campanha.
Este candidato está em vantagem perante os outros, em particular o seu principal rival, Manuel Alegre (MA), que se debate com um conjunto de dificuldades e obstáculos, transponíveis, mas que é preciso encarar de frente. Concretamente, MA é vitima do dilema em que se encontra. Apresenta-se como o principal candidato da esquerda, apoiado pelo Bloco de Esquerda (BE) e pelo Partido Socialista (PS), mas não deixa de surgir "colado" sobretudo a este último (o seu partido), que é também o partido do poder e cujo Governo e primeiro-ministro estão profundamente desgastados. É claro que MA não pode ser confundido com a política do Governo Sócrates, antes pelo contrário, e o passado recente prova-o. Por um lado, a ligação ao PS e, por outro, o apoio do BE ilustram o amplo leque de simpatias que suscita, da extrema-esquerda (BE) ao centro-esquerda (PS). Porém, embora isso seja verdade, em tese, as divisões existentes no campo da esquerda e as pressões e jogos políticos subjacentes aos referidos apoios partidários geram lógicas perversas que (objectivamente) favorecem Cavaco. O BE, que foi o primeiro partido apoiante do candidato, tentou desde sempre reverter em seu benefício as hesitações do PS, condicionando a sua acção e abrindo o campo à resistência interna de muitos socialistas no apoio a MA. A pressa do apoio do BE a Alegre ajudou a protelar o apoio do PS, mas, uma vez confirmado esse apoio, não se assistiu propriamente a uma mobilização das hostes socialistas em favor do seu dirigente "histórico". Pelo contrário, instalou-se uma espécie de jogo silencioso entre os dois partidos apoiantes (de facto "rivais"). Isto fez com que, em vez de se reforçar e ampliar a mobilização dos militantes de ambos os lados, como seria desejável, neutralizou o antigo MIC (ou impediu o seu ressurgimento) e contribuiu para alguma paralisia organizativa. Pode dizer-se que o excesso de activismo do BE é a contraparte do défice de activismo do PS, mas não sabemos se o inverso será verdadeiro. O que se sabe é que em matéria de activismo o BE bate o PS aos pontos. Mário Soares condicionou a mobilização do partido? O apoio foi dado a contragosto? A maioria dos dirigentes e quadros socialistas não se empenhou (ainda) na campanha? Os ressentimentos de há cinco anos não foram resolvidos? O PS prefere, de facto, Cavaco na Presidência? O aparelho do partido e os seus pequenos (ou grandes) oligarcas resistem ao apelo participativo do discurso de Alegre? Perguntas legítimas, cujas respostas se podem intuir, mas não provar. O certo é que a falta de empenho de dirigentes e militantes socialistas deverá constituir uma preocupação da candidatura de MA, já que isso pode hipotecar a possibilidade de uma segunda volta e a consequente derrota de Cavaco e da direita. Neste quadro, mais do que negociar equilíbrios ou "compromissos" impossíveis entre PS e BE, o melhor que MA tem a fazer é reforçar o seu discurso crítico e o seu estatuto independente. Alegre é, e terá de continuar a ser, uma voz da esquerda, na linha da tradição social-democrata, da esquerda plural, republicana, europeia, crítica dos excessos do capitalismo global, defensora do Estado social e da Constituição, mas também da modernização do país, do emprego e das políticas sociais, etc. Acresce que, à semelhança do Bloco, a direcção do PS terá de saber pôr em marcha a sua máquina partidária, sem o que será cúmplice de uma eventual vitória de Cavaco e de um reforço do bloco de direita no futuro próximo.

Elísio Estanque*, Público.pt, 02-09-2010


*Sociólogo, investigador do Centro de Estudos Sociais e membro do Conselho Geral do MIC

O populismo de uma candidatura


O Dr. Fernando Nobre (FN) desdobrou-se em entrevistas nos últimos dias (As Beiras, 13/10/10; Expresso, 16/10/2010), nas quais elege como principal adversário o candidato Manuel Alegre (MA), o que, de resto, é compreensível, sendo ele um homem com fortes referências monárquicas e de direita, enquanto MA é um conhecido republicano, socialista e de esquerda.


As afirmações e insinuações de FN são reveladoras do tipo de referências em que se inspira e do seu vazio ideológico. Evidencia todo o populismo que subjaz ao senso comum mais ingénuo quando reproduz o velho lema de que “os políticos profissionais” são incompetentes, reivindicando para si a personificação da mudança (ele seria a “lufada de ar fresco”, presume-se) e acusando os actuais protagonistas de estarem no poder há 30 anos, de beneficiarem de reformas “vitalícias” (imagina-se que a sua própria reforma será “a termo certo” como nos contratos de trabalho precários) e de terem chauffeur particular, quando ele próprio é, supostamente, a emanação directa e espontânea da “sociedade civil”, esse nome pomposo que os dirigentes de ONGs gostam de invocar para enaltecerem a sua acção de beneficência (e justificar os volumosos fundos que gerem). O pretensiosismo deste discurso demagógico poderia, caso o Dr. FN fosse um candidato para levar a sério, ofender todos os políticos actuais. Ou melhor, todos não, porque, embora proteste contra a classe política, há um político que está acima de qualquer suspeita. Mas a vénia que dedica a esse exemplo de “boa colheita” ajuda a explicar o rancor contra MA. Este, é acusado de ser o candidato de Francisco Louçã e de ter “traído o seu próprio partido” (na anterior eleição presidencial). Não importa para o caso que a maioria dos eleitores do PS tenha votado em Alegre, ignorando a decisão da direcção do partido. Decisão que FN tanto respeita para o passado como desrespeita no presente. O desfecho das presidenciais está ainda rodeado de incertezas. Quando as sondagens têm vindo a revelar um Cavaco Silva (CS) em quebra, aproximando-se do limiar da segunda volta, não deixa de ser curioso que FN – para quem os previsíveis cinco ou seis por cento “já é muito” (sic) – apareça agora a virar a sua bateria na direcção de MA, ao mesmo tempo que, note-se, suaviza claramente a crítica a CS. Isto numa altura em que outras respeitáveis figuras se desdobram em elogios ao actual presidente e em apelos ao bloco central. O momento crítico em que hoje nos encontramos (com um orçamento que pode ser ou não aprovado) não nos permite fazer prognósticos sérios, sendo que quanto mais a conjuntura de curto prazo vier a exigir maior intervenção do presidente em exercício, mais o resultado da próxima eleição presidencial permanecerá em aberto. O clima de instabilidade que paira no ar só pode acrescentar incerteza àquilo que já era muito incerto. As debilidades e riscos que a democracia enfrenta requerem a mobilização da sociedade e a participação dos cidadãos conscientes, mas isso não se confunde com o ataque generalizado à classe política, como faz FN, seguindo aqui a direita mais conservadora. A resistência emancipatória (sindical ou outra) não se confunde com acção caritativa, assim como os combates da esquerda em defesa do Estado social e da sua eficácia não se confundem com as queixas de “excesso de gordura”. Por fim, as acusações de incoerência parecem anedóticas, sendo FN um ex-militante da causa monárquica que ainda há um ano e pouco foi mandatário nacional do Bloco de Esquerda, e que esteve com Mário Soares na sua malograda candidatura de 2006. Terá esta candidatura sido engendrada para mobilizar a “sociedade civil”, ou antes para usar o populismo contra a esquerda e contra Manuel Alegre?

In Público.pt, por Elísio Estanque*, 23/10/2010


*Elísio Estanque Sociólogo, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

mercredi 27 octobre 2010

Lido no Público

Nas últimas eleições gastei 849 mil euros, enquanto Cavaco despendeu 3,2 milhões. O PR está “estrategicamente a visitar os concelhos bastiões do seu eleitorado, apoiado pela direita política e económica”, dispensa a afixação de “outdoors” porque o seu ”outdoor é a exposição permanente no cargo de Presidente ».
In Público hoje

O país está pior e a intervenção de Cavaco Silva não serviu para nada

O candidato presidencial Manuel Alegre considerou hoje que o discurso do anúncio da recandidatura de Cavaco Silva a Belém foi muito “autocentrado, um pouco egocêntrico e aborrecido”. Manuel Alegre falava no Funchal num encontro com jornalistas no segundo dia da visita que efectua à Madeira. “Foi um discurso muito parecido com o que fez há cinco anos”, disse Manuel Alegre, acrescentando que “não são visíveis os contributos que Cavaco Silva acha que deu para resolução do país, que está muito pior”.

Para o candidato, no discurso “não há nada de verdadeiramente novo e põe acento tónico no seu conhecimento dos dossiers e experiência" "Mas isso não se traduziu em nada porque vivemos a prior crise desde o 25 de Abril”, acrescentou.Respondendo à interrogação do Presidente da República sobre a situação do país na ausência da sua acção "intensa e ponderada", Alegre afirmou: “o país está pior, pior que isto é difícil e a sua intervenção não serviu para nada”.Sublinhou que Cavaco Silva “falou sobretudo dele próprio" e "tem omissões de carácter político", não tendo dito "o que fará em caso de ser eleito”.
Sobre as afirmações do novo candidato, acerca da intenção de fazer uma campanha sem outdoors e poucos gastos, Manuel Alegre afirmou que não vai “colaborar com o professor Cavaco Silva para não haver campanha”. “Tem que haver campanha mesmo, debates, com tudo o que isso implica, porque a democracia tem os seus custos”, afirmou o candidato.
Alegre recordou que nas últimas eleições gastou 849 mil euros, enquanto que Cavaco Silva despendeu 3,194 milhões. “O outdoor (de Cavaco Silva) é a permanência no cargo de Presidente”, concluiu.
“Eu não colaboro em atitudes populistas com carácter demagógico”, declarou, Manuel Alegre, realçando a importância das eleições Presidenciais que “têm custos” mesmo num contexto de contenção.
Instado a comentar a tradição do povo português da escolha do Presidente da República ficar definida apenas numa segunda volta e “dar o benefício da dúvida” viabilizando segundos mandatos, referiu que as últimas sondagens mostram que “nunca que nenhum Presidente da Republica partiu tão baixo, está entre 53 e 55%”.
Manuel Alegre seguiu depois para a Ribeira Brava, para visitar zonas atingidas pelo aluvião de 20 de Fevereiro e se inteirar do que foi feito e do que falta fazer.
27 de Outubro de 2010


Manuel Alegre mais preocupado com situação do país do que com desfecho das negociações do OE

O candidato presidencial, Manuel Alegre, afirmou hoje estar mais preocupado com as consequências da austeridade para o país do que com o desfecho das negociações do Orçamento de Estado entre o Governo e o PSD. “O que me preocupa não é o desfecho, é a situação do país e dos mais débeis, os portugueses que vão sofrer, com ou sem acordo”, disse Manuel Alegre à agência Lusa antes de deixar a Madeira, depois de uma visita de dois dias no âmbito da pré-campanha para as eleições presidenciais.
Para o candidato, “tudo era possível” em termos de negociações do OE para 2011, "o problema é o que vem aí, porque com ou sem acordo vai ser duro, com as consequências das medidas de austeridade, para os portugueses”.
Nos dois dias da visita que efectuou à Madeira, Manuel Alegre visitou as zonas afectadas pelos incêndios de Agosto, passando pelo Terreiro da Luta, nas serras sobranceiras ao Funchal, e Tábua e Serra d’Água, no concelho da Ribeira Brava, onde são ainda visíveis as marcas do temporal de 20 de Fevereiro. Inaugurou também a sua sede de campanha na capital madeirense acompanhado pela mandatária regional, Violante Saramago Matos e outras personalidades madeirenses, nomeadamente dirigentes socialistas.
27-10-2010 com Lusa

Manuel Alegre... "não estava a contar"

O candidato presidencial, Manuel Alegre, admitiu hoje que com um final sem sucesso das negociações entre Governo e PSD para o Orçamento do Estado para 2011.
Manuel Alegre teve conhecimento da noticia quando realizava uma visita à freguesia da Tábua, no concelho da Ribeira Brava, na zona oeste da ilha da Madeira, uma das zonas afectadas pelo temporal de 20 de Fevereiro, no âmbito da visita que efectua à região em pré-campanha para as eleições presidenciais de 23 de Janeiro. "Estou a visitar uma região sinistrada e recebi a notícia que o Presidente tinha convocado o Conselho de Estado", disse. Alegre realçou que "já tinha avisado que o Presidente convocou os partidos políticos depois de um desentendimento público e agora convoca o Conselho de Estado também depois de um desentendimento público". "Devia ter agido antes e não depois", declarou. O candidato garantiu que, "de qualquer forma como membro do Conselho de Estado, terá sentido de Estado e procurará dar a sua contribuição para que se evite que o país, em cima de uma grave crise financeira venha a ter uma crise política". Escusando fazer mais comentários sobre o desfecho das negociações orçamentais, apenas admitiu que "não estava a contar" com esta situação. Cavaco Silva convocou hoje uma reunião do Conselho de Estado para sexta-feira às 17h00 para debater a situação política e o Orçamento do Estado para 2011. O anúncio da convocação do Conselho de Estado foi feito menos de uma hora depois do Governo e do PSD terem rompido as negociações sobre o Orçamento. Para as 17h00 está também já agendada uma reunião da comissão política do PSD. Às 20h00, o líder social-democrata, Pedro Passos Coelho, fará uma declaração.
In Publico, 27/10/2010

Manuel Alegre vem fazer campanha em França

Segundo o Mandatário de Manuel Alegre em França, o Candidato às eleições Presidenciais portuguesas desloca-se a França entre os dias 26 e 28 de Novembro. “A agenda ainda em fase de acabamento, já prevê que 26 e 28 sejam os dias dedicados a Paris e à sua região e o Sábado 27 a Bordéus” disse Aurélio
Pinto ao LusoJornal.
“Além do Jantar Republicano de apoiantes que ocorreu no dia 5 de Outubro no Restaurante Sur un R de Flora, a Direção de campanha já voltou a reunir os seus membros no dia 16 na sua sede (70 rue François Miron, em Paris 4)” explicou o Mandatário. “Mais reuniões de trabalho e outras públicas estão
igualmente previstas, em locais a assinalar atempadamente, em função
do número de participantes”.
In Lusojornal, 27/10/2010

Lei Eleitoral para as Presidenciais pode mudar até sexta-feira

A Lei Eleitoral para o Presidente da República pode vir a ser alterada esta sexta-feira e as mudanças deverão entrar em vigor já no escrutínio do próximo dia 23 de Janeiro. Na quinta-feira passada a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos,
Liberdades e Garantias debateu uma proposta apresentada pelo PSD, melhorou-a e daí resultou um texto que agora tem de voltar a ser votado em Plenário do Parlamento. A mudança mais significativa é que a eleição para o Presidente da
República passa a utilizar os mesmos cadernos eleitorais que para a eleição
legislativa. Até agora os Portugueses que se tivessem inscrito nos cadernos eleitorais nos últimos 4 anos, não podiam votar. Finalmente, os Deputados parece terem chegado a um acordo para resolver este problema recorrente e que criava uma nítida discriminação entre Portugueses que residem em Portugal e aqueles que residem no estrangeiro.
Durante o debate realizado na quinta-feira da semana passada, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, as bancadas parlamentares do PS, PSD e CDS-PP anteciparam que vão votar favoravelmente o
texto no Plenário, enquanto o PCP e o Bloco de Esquerda anunciaram que votarão contra. No final dos trabalhos, o Deputado Paulo Pisco (PS) disse que as alterações
aprovadas são “um incentivo à participação nas eleições para a Presidência da República”, que juntamente com as legislativas são escrutínios que, reconheceu, são marcados por “elevadíssima abstenção”.
Hugo Velosa (PSD), por seu lado, destacou a uniformização dos regimes eleitorais em que são chamados a participar os emigrantes portugueses. “Existiam vários regimes para os processos eleitorais para os Portugueses residentes no estrangeiro
e o processo para o Presidente da República seguia regras que já não condiziam com as outras. O objectivo do que aqui se fez, independentemente de haver agora um processo eleitoral ou não, é haver regimes iguais para todas as eleições”, frisou.
O Deputado social-democrata rejeitou, por outro lado, as alegações dos Deputados comunistas e do Bloco de Esquerda, defendendo que as alterações “não favorecem ninguém”.
Nuno Magalhães (CDS-PP) saudou as alterações aprovadas, e sustentou que as mesmas “satisfazem o interesse que deve ser de todos e que é a promoção da participação eleitoral, nomeadamente de Portugueses que são nossos concidadãos e que não residem no território nacional”. Em sentido contrário pronunciaram-se
António Filipe (PCP) e Luís Fazenda (BE). “Não estamos em momento de alterar a Lei Eleitoral para o Presidente da República, e é essa a nossa objecção de fundo”, disse o Deputado comunista. O facto das presidenciais estarem já marcadas e
a legislação que vier a ser aprovada em votação fina global no Plenário ser depois promulgada pelo actual Chefe de Estado, merece as maiores reservas do PCP. “Estamos com eleições marcadas. Estamos precisamente a três meses de eleições, e esta legislação, a ser aprovada em votação final, vai ser promulgada pelo Presidente da República que já é candidato e tem eleições marcadas. Não é altura”, vincou. No entanto, apenas se pronunciou pela forma e não pelo conteúdo. Contactada pelo LusoJornal, a responsável pela área da emigração no PCP, Rosa Rabiais, alega que a posição do PCP também é baseada em questões de fundo. “A proposta diz que se vão suprimir todas as mesas de voto com menos de 5.000 eleitores, enquanto que primeiro não havia mesas de voto com menos de 1.000 eleitores” afirma Rosa Rabiais. “Como vê, estamos a dificultar o voto. Por exemplo na Suíça, deixaria de haver 5 mesas de voto para haver apenas uma” disse ao LusoJornal. Esta é a principal razão para que o PCP anuncie votar contra nas próximas eleições. “Os Deputados do PCP não perceberam nada” disse por seu lado o Deputado socialista Paulo Pisco. “O que estão a dizer não faz qualquer sentido. Em cada posto consular sempre houve mesas de voto e continuará a haver. Mas primeiro faziam-se secções de voto por cada grupo de 1.000 eleitores, enquanto
que agora as secções de voto se fazem por cada grupo de 5.000 eleitores. Por isso não é nada do que argumenta o PCP”. Paulo Pisco explicou ao LusoJornal que o desdobramento de mesas de voto no mesmo posto consular fazia com que “logisticamente fosse complicado gerir a implicação de tanta gente” e acrescenta
que “desta forma as secções de voto têm mais inscritos” mas garantiu que cada Consulado passa a ter, pelo menos uma secção de voto “como sempre teve até aqui”. Deixa no entanto de ser necessário três dias de votação, para serem apenas
dois. “Sobre esta questão, nós até compreendemos porque à sexta-feira há poucas pessoas que vão votar” diz Rosa Rabiais do PCP. Luís Fazenda, do Bloco de Esquerda, também preferiu ficar-se por considerações partidárias. Disse que apenas
pode estar satisfeito pelo facto da maior parte dos emigrantes portugueses poder vir a votar nas presidenciais e, referindo-se ao PS e PSD, recordou que “há muito tempo que os partidos políticos que têm Deputados eleitos pelos círculos da
emigração poderiam ter suscitado a questão”.
In Lusojornal, por Carlos Pereira, com Lusa, 27/10/2010

lundi 25 octobre 2010

Mensagem de Manuel Alegre aos madeirenses

Mensagem de Manuel Alegre aos madeirenses:

A autonomia é sinónimo de liberdade

Uma das maiores conquistas do Portugal Democrático foi a consagração, na Constituição da República e na prática social, das autonomias político-administrativas dos Açores e da Madeira.

Ilhas de gente empedernidamente portuguesa – foram votadas, porém, durante séculos, ao abandono e esquecimento. A descentralização ocorrida, bem como o seu aprofundamento,
constituem, afinal, uma das grandes mudanças que animaram o último quarto do século passado e que continuam a mobilizar no Portugal insular a energia de açorianos e madeirenses.

A autonomia é sinónimo de liberdade. O seu aprofundamento reforça a especificidade dos Açores e da Madeira como parte integrante da identidade nacional portuguesa.

Por isso mesmo, torna-se um imperativo de pedagogia democrática acarinhar estas expressões de poder regional e combater os preconceitos e o desconhecimento que ainda persistem em certos sectores da opinião pública portuguesa relativamente às experiências
autonómicas atlânticas.

O reconhecimento devido às Assembleias Legislativas Regionais como primeiro órgão de poder autonómico, a clarificação da competência legislativa, a dignificação dos respectivos Estatutos Político-Administrativos e a sua conformidade com a Constituição da República Portuguesa, o incremento da cooperação entre a República e as Autonomias e a reservação de regras claras de relacionamento financeiro são, pois, tarefas face às quais o Presidente da República deve desenvolver uma influência positiva e unificadora.

Não se pode ignorar a projecção e profundidade atlânticas que os Açores e a Madeira conferem a Portugal. Por isso é preciso descentralizar para unir, reconhecer para dignificar e bem-querer para engrandecer Portugal.

Para todos, e para a Madeira em particular, a autonomia tem que ser, também, sinónimo de democracia, construída no respeito pela diferença de opinião, na concretização dos direitos, na participação cívica, na redução das desigualdades sociais.

Comigo na Presidência, os madeirenses podem ter a certeza que haverá compreensão, solidariedade e apoio.
Manuel Alegre

APROVADAS PROPOSTAS DO VOTO PARA AS PRESIDENCIAIS

APROVADAS PROPOSTAS DO PS PARA ACABAR COM DISCRIMINAÇÃO DO VOTO DOS PORTUGUESES NO ESTRANGEIRO PARA AS PRESIDENCIAIS

O Partido Socialista deu um contributo decisivo para acabar com uma lei tortuosa e discriminatória quanto ao exercício do direito de voto dos portugueses residentes no estrangeiro para escolher o Presidente da República, ao apresentar oito propostas de alteração a um diploma do PSD que fazia apenas a actualização dos cadernos eleitorais.
As propostas que apresentei na Comissão dos Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, em colaboração com o deputado Pita Ameixa, têm como objectivo simplificar, clarificar e, sobretudo, acabar com as limitações e discriminações que a Lei Eleitoral para o Presidente da República apresentam quanto ao direito de voto dos portugueses a residir no estrangeiro.
Com as propostas agora aprovadas na Comissão dos Assuntos Constitucionais o universo eleitoral passa a ser o mesmo que para a eleição da Assembleia da República.
São eliminados os artigos que impediam de votar os portugueses residentes na Europa há mais de 15 anos e há mais de dez anos nos países extra-europeus, que os legisladores adoptaram com o argumento da necessidade de garantir os laços de efectiva ligação à comunidade nacional, como exige o artigo 121 da Constituição da República Portuguesa, nº2.
Até porque os laços de efectiva ligação à comunidade nacional eram quase impossíveis de comprovar ou pelo menos eram dissuasores da participação, já que a lei exigia a quem não estivesse inscrito no recenseamento eleitoral que o eleitor tivesse vindo a Portugal durante um mês nos últimos cinco anos e fizesse prova de domínio da Língua portuguesa, embora sem que esses mecanismos de verificação tivessem sido definidos e implementados.
Elimina-se também a limitação ao exercício do direito de voto aos cidadãos com dupla cidadania, uma vez que considerámos que todos os que têm a nacionalidade portuguesa como originária, não tendo impedimentos no país de acolhimento, não os deveriam também ter em relação a Portugal.
Além disso, o PS propôs uma redução de três para dois dias para a abertura das assembleias de voto e o desdobramento das mesas de voto num posto consular apenas quando estejam inscritos mais de 5.000 eleitores, contra os 1.000 que agora a lei prevê e criava enormes problemas logísticos na organização das mesas.
Com estas alterações à lei eleitoral para o Presidente da República acaba-se com uma discriminação inaceitável e cumpre-se o desígnio de igualdade de todos os portugueses onde quer que estejam, reforçando-se também assim a cidadania. Com efeito, estas alterações constituem um importante contributo para combater os preocupantes níveis de abstenção que se verificam nas comunidades portuguesas nas eleições para a Presidência da República.
Esperemos agora pela promulgação pelo Senhor Presidente da República.

Paulo Pisco
Deputado do PS eleito pelas Comunidades

dimanche 24 octobre 2010

"Toda a gente sabe que o PR tem andado em pré-campanha"

Como é possível ser candidato a PR de dois partidos quando um apresenta este Orçamento do Estado (PS) e o outro (BE) declaradamente vai votar contra?
É uma boa pergunta. Mas eles estão de acordo na minha eleição como presidente, acham que sou um presidente que corresponde melhor à situação do País.
A dinâmica social que está por trás desses dois sentidos de voto não vai causar-lhe problemas no terreno?
Não. Primeiro, eles acham que posso ser um presidente mais justo, mais solidário, mais aberto, mais humanista, com uma visão política diferente, menos conservadora. Aí há uma concordância dos dois partidos. Aquilo que tenho visto no terreno - e quem for à minha sede pode comprová-lo - é que há uma excelente colaboração entre militantes do PS, do Bloco e sobretudo aqueles que estão na origem da minha candidatura, os independentes.
Quem lá está só fala da eleição presidencial, não fala de mais nada?
Não! Na minha presença, pelo menos, não.
Acredita que os eleitores vão continuar a considerar, como há quatro anos, a sua candidatura suprapartidária, agora que tem o apoio de dois partidos?
Mas é que ela é suprapartidária mesmo, não negociei nada com ninguém! Anunciei a minha disponibilidade sem dizer nada a ninguém, formalizei a minha candidatura sem pedir autorização a ninguém. Sou um homem independente, livre, penso pela minha cabeça - a minha vida responde por isso - e faço o meu discurso mesmo que desagrade às forças políticas que me apoiam. Estou aqui a dizer coisas que se calhar desagradam ao PS e outras que desagradam ao Bloco, mas digo aquilo que penso, e essa é a função de um presidente da República.
A eventual recandidatura de Cavaco Silva foi anunciada de forma inédita por Marcelo Rebelo de Sousa na televisão. Acha que foi um anúncio encomendado?
Eu anunciei a minha própria candidatura, não pedi a ninguém para a anunciar. Das duas, uma: se foi o PR que pediu ao Marcelo Rebelo de Sousa, é um facto insólito, estapafúrdio, mas nem quero acreditar nisso. Acho que isto é mais uma daquelas brincadeiras a que já nos habituou o professor Marcelo Rebelo de Sousa e que, aliás, fazem o seu encanto.
As sondagens continuam a mostrar que ainda está longe de uma vitória. Como espera inverter essa tendência favorável ao actual Presidente Cavaco Silva?
Da última vez fiquei a menos de 30 mil votos da segunda volta. Desta vez tenho vindo paulatinamente a subir - a última sondagem da Aximage já me punha 37%. Todas as sondagens, a Eurosondagem, a Aximage e Intercampus, com números diferentes, têm um mesmo sentido: o professor Cavaco Silva a baixar três ou quatro pontos e eu a subir três ou quatro. A campanha propriamente ainda não começou, andamos em pré-campanha, sobretudo o Senhor Presidente...
É por isso que acha que ele não fez, como disse no princípio desta entrevista, tanto quanto devia fazer para tentar encontrar um entendimento para o próximo Orçamento?
Não quero julgá-lo, a vida dele também não é fácil. Mas acho que ele devia ter-se concentrado mais.
No fundo, está a tentar dizer-me que o presidente da República tem estado em pré-campanha nestas últimas semanas?
Isso toda a gente sabe, os jornalistas também. O Senhor Presidente visitou praticamente todos os seus bastiões eleitorais.
Pareceu-me vê-lo vacilar aqui há uns meses, antes de o PS ter dado o apoio à sua candidatura. Não teria avançado se esse apoio lhe tivesse faltado?
Já tinha avançado.
Mas teria continuado?
Com certeza que teria continuado. Sou do PS, e alegra-me saber que o PS me dá o seu apoio. Agora, de um ponto de vista da candidatura em si, tal como estão as coisas, não sei se seria difícil, se seria mais fácil. De qualquer maneira decidi antes.
As dúvidas que o PS teve durante algum tempo têm a ver com as resistências que um histórico como o ex-PR Mário Soares colocou ao apoio do partido a si?
Não, acho que não. Tem a ver com dúvidas que são legítimas da parte de pessoas da direcção do PS, talvez por algumas marcas da última eleição. Tenho camaradas meus da direcção que reconhecem que se enganaram e que deviam ter apoiado a minha candidatura. Tem a ver porventura com alguns votos que tive na Assembleia da República ou com o meu comportamento como deputado. Mas sempre agi assim. Nunca votei nenhuma revisão constitucional! No Governo do bloco central fui eu, o Mário Cardia, que já cá não está, e outros, que votámos contra a lei de segurança interna(1). Tive nessa altura também um conflito com Mário Soares e Salgado Zenha por causa disso. Eu dizia ao Mário Soares "você não leu a lei!". Mais tarde ele num congresso disse "ainda bem que Manuel Alegre votou desta maneira porque eu realmente não tinha lido a lei". Isto é verdade, é história. Está escrito.
Já não espera o apoio desse seu antigo amigo?
Somos homens livres, vacinados e adultos, travámos muitas batalhas juntos. Isso fica à consciência de cada um. O que assinalo é que nestas coisas é preciso ter uma posição clara. Jorge Sampaio teve uma posição muito clara, não era obrigado a isso. Veio dar-me o seu apoio duas vezes, teve aquele almoço comigo sem qualquer ambiguidade, porque há momentos na vida em que temos de saber de que lado estamos. Isto vai ser uma batalha esquerda/direita, a esquerda democrática e a direita, em que está o PS de um lado, o PSD do outro. Está um candidato do centro conservador, Cavaco Silva, e um candidato de centro-esquerda e da esquerda democrática, que sou eu. É preciso saber de que lado se está. Jorge Sampaio, ex-presidente da República, disse-o claramente sem ambiguidades. Agora cada um faz o que a sua consciência lhe dita.
A esquerda parece muito dividida, a direita não avança candidato, e ao centro está Cavaco Silva. Está só ao centro ou também está à direita?
Acho que está no centro-direita. Mas porque não avança a direita com nenhum candidato?
Qual a sua tese?
Tem medo de perder. Acho que houve uma fractura, em parte, do eleitorado de Cavaco Silva por causa do voto sobre o casamento das pessoas do mesmo género. Houve ali, de facto, uma grande irritação, e não tenho dúvida nenhuma de que havia vontade... Ribeiro e Castro estava com vontade de avançar, a um certo momento creio que Santana Lopes estava com vontade de avançar.
Acha que houve negociações no sentido de travar essas tomadas de posição?
Houve uma grande pressão para travar, com medo de perderem as eleições. Porque há um risco de perderem as eleições. Cavaco Silva é o presidente que se recandidata - ele parte mais baixo.
A actual divisão da esquerda, com estas candidaturas, joga a favor ou contra si?
O Partido Comunista (PCP) apresenta sempre um candidato em todas as eleições. Umas vezes desiste, outras não. Mas acho que é útil que apresente, porque há uma parte do eleitorado do PCP que só o PCP é capaz de mobilizar.
E acharia útil que desistisse?
Sei, e costumo dizer, que nunca se perdeu uma eleição presidencial por causa do PCP. Nomeadamente, Mário Soares ganhou a segunda volta com uma extraordinária disciplina de voto do PCP, que fez um congresso extraordinário, convocado por Álvaro Cunhal. Portanto, compete-lhes a eles decidir. Quanto aos outros candidatos, tenho uma relação muito cordial com o Defensor de Moura, acho que aquilo é um problema regional, não é um inimigo nem é um adversário se ele conseguir alguns votos. Em relação ao outro [Fernando Nobre], não sei. Francamente, não sei nem quero pronunciar-me. A única coisa que digo é que nunca tive nenhum problema pessoal com ele, julguei que era uma pessoa muito cordial, mas ele desde o princípio, desde a apresentação da candidatura, sempre teve uma atitude...
Fernando Nobre?
Sim... Tem sido de uma extrema agressividade em relação a mim, não sei se em nome próprio, se em nome de alguém.
Há comentadores que conseguem ver o dedo de Mário Soares por trás da candidatura, é isso que está a tentar dizer?
Não estou a tentar dizer porque não estou lá dentro. Já li isso, há muita gente a dizer isso.
Mas acredita nessa tese?
Não quero falar disso, ponto final.
Diz também que a sua é uma candidatura de inclusão. Acredita que conseguirá ganhar votos ao centro e até um pouco à direita, que são aqueles de que precisa para ganhar as eleições?
Acredito, tenho comigo pessoas de direita. A candidatura presidencial é muito transversal, tem muito a ver com empatias ou com antipatias, e há pessoas de direita, até monárquicos, até gente do CDS e do PSD, gente que subscreveu já da outra vez a minha candidatura! Claro que é residual.
Qual o racional político por baixo dessa abrangência toda?
Em política, o factor afectivo e o factor irracional às vezes sobrepõem-se ao racional. Mas há uma lógica: vai ser um confronto entre duas visões do mundo, uma mais conservadora e outra mais à esquerda.
Acha que vai conseguir juntar José Sócrates e Francisco Louçã no mesmo palco?
(risos) Acho que não vai ser necessário. Um e outro estão juntos no apoio à minha candidatura e estão sem reservas. Testemunho isso. O importante é que eles apoiem a minha candidatura. Agora, não é preciso que estejam no mesmo palco. Quem tem estado no palco é o candidato.

(1) Segurança interna - Alegre votou contra a lei de segurança interna do Governo PS/PSD de 1983-85. Voltou a opor- -se a um diploma desta natureza em 2008
in DN, por JOÃO MARCELINO, 24/10/2010

"Cunhal era fascinante, tinha uma grande cultura"

Em tempo de campanha e pré-campanha, sobra-lhe tempo ainda para a escrita?
Em tempo de campanha é difícil, embora a escrita apareça sempre no inesperado. Costumava dizer que pode escrever-se mesmo na boca de um canhão, mas a campanha é muito absorvente. O cargo de presidente vai pôr restrições muito maiores.
Quando publicou o seu primeiro livro tinha 30 anos. Foi tarde ou foi cedo?
Tinha 29! Foi quando devia ser.
Se for eleito, pretende continuar a escrever?
Acha que o País lhe daria tempo ?
Os presidentes da República têm todos escrito, publicam livros mas de outra natureza. Depende da maneira como se organiza. Conheci Mitterrand, de quem tive o privilégio de ser amigo, e ele reservava certas horas por dia para a leitura, para a escrita, para ir às livrarias, para passear...
Esse seria o seu modelo?
Bom, o Mitterrand é o Mitterrand... Mas o próprio Mário Soares, como PR, tinha muitas horas de leitura, de conviver com artistas, com poetas, com pintores.
Acredita em políticos que não tenham esse tempo?
Preocupa-me (risos). Acho que a Nação não é só economia, não é só contas. Também é esse outro lado da vida, também é o futebol, o gosto de ler um bom livro, de ver um bom filme, de ler poesia.
Quais são as figuras políticas ou intelectuais que mais marcaram a sua formação?
Figuras políticas de referência tenho aqueles homens que marcaram o imaginário da minha infância. O Churchill, o De Gaulle, são gigantes da história, o Roosevelt. Depois, o Olof Palme, homem extraordinário e verdadeiro social-democrata. Um aristocrata que era verdadeiramente um socialista...
Ainda o conheceu?
Conheci, tenho até uma fotografia com ele tirada na Suécia... (e continuando a resposta) Mitterrand, Felipe González. Depois, em Portugal, sem dúvida nenhuma o Fernando Piteira Santos. Um grande homem político, um grande jornalista, um homem que podia ter escrito muitos livros. Um dos melhores prosadores que conheci. Mas a sua intervenção como jornalista impediu-o de fazer a obra que podia ter feito. O Álvaro Cunhal, Mário Soares, Salgado Zenha foram pessoas...
Que relacionamento tinha com Cunhal?
Tive um relacionamento bastante estreito num período da minha vida. Chegámos a viver uns tempos na mesma casa.
A seguir ao seu regresso a Portugal?
Não, antes, no exílio. Depois do meu regresso a Portugal encontrávamo-nos pouco, a não ser nas recepções oficiais, porque aí houve, como sabe, posições diferentes.
Como era ele no dia-a-dia dessa vivência?
Era um homem fascinante. Um homem de uma grande cultura, muito diferente daquele ar carrancudo com que ele aparece muitas vezes em cena. Era um homem extremamente afável. Gostava de pintura, sabia pintar, traduziu livros de Shakespeare, era capaz de falar de poesia.
Teve uma educação católica. Como se relaciona hoje com a religião?
Relaciono-me bem com a religião. Havendo a laicidade que está consagrada na Constituição, cada um no seu papel, acho que a Igreja tem um papel muito importante em Portugal, sobretudo na obra social que faz. Sem muitas obras sociais da Igreja, as dificuldades de parte do povo português seriam piores ainda.
Depois de 48 anos voltou em Março deste ano a Nambuangongo, em Angola, onde esteve na Guerra Colonial. Que emoções lhe despertou esse regresso?
Sentimentos muito fortes. Tão fortes que até chorei, uma coisa que não costumo fazer em público. Pelos amigos com quem lá estive e que já cá não estão (Fernando Assis Pacheco, que já morreu)... A campa de um soldado português que estava ali enterrada e que mandei limpar...Foram períodos intensíssimos em que se vivia entre a vida e a morte, uma fronteira muito curta.
E, dos dez anos que se seguiram de exílio em Argel(1), que recordações tem desse tempo? Não acha que foi tempo perdido?
Não. Foi tempo de juventude, vi muita coisa, aprendi muita coisa, conheci também alguma gente fantástica. Em Argel nessa altura estava toda a gente que queria mudar o mundo, o Eldridge Cleaver, o Carmichael, os Panteras Negras, o Guevara, que por lá passou, os africanos, até o Cubillas, que queria libertar as Canárias.
O Nobel da Literatura foi recentemente atribuído a Mario Vargas Llosa. Foi uma decisão justa?
Foi. Desta vez foi justa e já podia ter sido há mais tempo, embora haja outros autores que possam tê-lo... O Jorge Luis Borges nunca o recebeu... Não percebo porque o Philip Roth, o escritor americano de quem gosto muito, não o recebeu...
O que matou da última vez que foi à caça?
Perdizes.
Quando viu o Benfica ao vivo a última vez?
Já foi o ano passado, este ano ainda lá não fui.
Gostaria um dia de ser recordado mais como poeta ou como presidente da República?
Eu, como poeta, vou ser recordado. Como PR, não sei... Primeiro não sei se vou ser PR e, se o for, não sei se serei recordado. Como poeta com certeza que o vou ser!

(1) Exílio em Argel - Para escapar à PIDE, Alegre refugiou-se em Argel, em 1964, onde foi locutor da rádio Voz da Liberdade e escreveu 'Praça da Canção'
In DN, 24/10/2010

"O menor dos males será a votação do Orçamento"


GENTE QUE CONTA - Manuel Alegre
"O menor dos males será a votação do Orçamento"

"Se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. (...) E teria tentado sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras. (...) Há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. (...) Tem havido uma certa falta de comparência do Presidente da República"
No preciso momento em que o PS e o PSD estão sentados à mesa a tentar viabilizar um acordo sobre o Orçamento do Estado, em nome do centro político em que o País tem vivido, Manuel Alegre quer precisamente fazer vingar a tese de que as próximas eleições presidenciais serão disputadas entre um candidato da direita, Cavaco Silva, e um candidato que representa a esquerda, ele próprio. Não é fácil - sobretudo quando tem de se admitir, como o próprio Manuel Alegre, com incomodidade, que, apesar de tudo, o País precisa de um Orçamento, mesmo que ele não possa ainda fazer a aposta que se desejaria, na economia e no crescimento. Apertado entre as opções do Bloco de Esquerda e as do PS, o candidato desvaloriza as divergências profundas entre os dois partidos que o apoiam e procura fazer um foco na sua candidatura, que segundo ele continua tão independente como há quatro anos.
O ministro Teixeira dos Santos não se cansa de repetir que este é o Orçamento do Estado de que o País necessita. Concorda?
Este é um Orçamento que me custa, e acho que vai custar a todos os portugueses, sobretudo aqueles a quem vão cortar salários, congelar as pensões, diminuir as bolsas.
Compreende essas linhas gerais do Orçamento?
É impossível separar estas linhas gerais do Orçamento dos nossos próprios problemas e também daquilo que se passa na Europa, da linha de austeridade que está a ser imposta neste momento pela Alemanha aos países que têm as dificuldades que temos.
Recebemos essas indicações lá de fora?
Recebemos! Aquilo que mais me choca neste momento é que somos um país que está a perder a independência. Não temos autonomia de decisão! Aqueles que andaram nos campos de batalha a defender a independência nacional nunca pensaram que lhes podia aparecer um dia um inimigo chamado mercados financeiros. Mercados financeiros, Banco Central Europeu, empresas de rating. De facto, não temos praticamente autonomia de decisão. Agora, acho que uma coisa é a consolidação das finanças públicas, rigor nas finanças públicas - isso é indispensável, e temos de o fazer e de diminuir o endividamento. Outra coisa é resolvermos o problema da nossa economia. Isto não é só finança. Tem de haver crescimento, tem de haver uma mudança de paradigma, tem de haver investimento de muito maior qualidade - como sublinhava, aliás, o dr. Santos Silva numa entrevista -, que acrescente valor, na inovação, etc.
Que não haverá nos próximos tempos...
Não vai haver. Portanto, vai haver recessão. E, se vai haver recessão, a recessão é capaz de trazer mais recessão. E se calhar depois disso é preciso haver o PEC IV ou V...
Se estivesse na Assembleia da República, como votava o Orçamento ?
Mas não estou na Assembleia da República, sou candidato a Presidente da República. Posso dizer o que teria feito se fosse presidente da República e que acho que não foi feito.
E o que teria feito?
Primeira coisa, teria convocado o Conselho de Estado.
Logo?
Estamos numa situação muito complicada. Sou membro do Conselho de Estado(1), não costumo dizer ao Presidente da República quando é que ele deve ou não convocá-lo, mas, se fosse presidente, teria convocado o Conselho de Estado. Teria convocado os partidos políticos antes de eles se desentenderem.
Mais cedo?
Mais cedo. Teria convocado os parceiros sociais, sindicatos e associações patronais. Teria tentado promover uma concertação, política e social. E teria tentado sensibilizar, coisa que não sei se o Presidente fez - mas se fez não deu nota pública disso -, sensibilizar chefes de Estado, governos e instituições estrangeiras, porque Portugal foi tratado injustamente, e mesmo algumas empresas de rating, de notação, trataram injustamente o País. Portanto, teria tido uma posição mais activa e provavelmente ter-me-ia mesmo deslocado a países estrangeiros. Se o Presidente vai a Angola - e fez muito bem em ir a Angola - acho que a situação exigia que fosse a França e que fosse à Alemanha, porque há neste momento uma deslocação do centro do poder na Europa.
Porque acha que o Presidente não o fez, não se envolveu tanto?
O Presidente da República muitas vezes - ainda ontem estive a ver uma coisa que anda aí no YouTube - diz "eu não me pronuncio", ou "o Presidente da República não se pronuncia". Mas há situações em que o Presidente da República deve pronunciar-se, não pode ser só um gestor de silêncios. Houve agora esta decisão da senhora Merkel e do Sarkozy, que é uma subversão dos tratados europeus, dizendo que vão punir politicamente os países que estiverem em incumprimento de dívida quando eles próprios já estiveram nessa situação. Aí está uma situação que justificava também uma tomada de posição do Senhor Presidente.
É preferível, nesta conjuntura que vivemos, ter um mau Orçamento ou não ter Orçamento nenhum?
Essa é uma pergunta que eles vão ter de decidir. Este Orçamento tem as consequências que sabemos e que foram ditas num debate da Assembleia. Ouvimos o próprio dr. Silva Lopes, que é uma pessoa conceituada, pessimista e tal, mas tem tido um papel sempre positivo nas questões portuguesas, o dr. Alberto Reis, etc., dizendo que um país não aguenta dez anos de recessão. Não aguenta! Não haver Orçamento, na situação em que estamos, vai levar a uma situação parecida ou pior.
Portanto, pesando tudo, gostaria que o Governo tivesse Orçamento do Estado?
Eu, na situação em que estou, tenho dificuldade em dizer. Acho que há dramatização a mais. Mas a reunião do PSD, as condições que são postas... Dá impressão que há ali uns sinais de abertura para a viabilização do Orçamento.
E, tudo pesado, é disso que o País precisa neste momento?
O País precisava de um outro tipo de Orçamento! O País precisava de crescimento económico.
Mas só vai ter este ou nenhum...
Pois não, mas é terrível.
Perdoe-me a insistência: perante este cenário, o que aconselharia?
Tenho dificuldade em dizer. Não estou a fazer isto por qualquer jogo, tenho dificuldade porque acho que as consequências deste Orçamento vão ser muito dolorosas para os portugueses. E a ausência de um Orçamento pode agravar, de facto, a pressão especulativa sobre Portugal e trazer consequências piores ainda.
E portanto...
Portanto? Mas isso é uma decisão que não sou eu que vou tomar. A posição do Governo é conhecida! Eu, como português, penso que porventura o menor dos males será a votação do Orçamento. É o menor dos males.
Deixa-o desiludido o facto de o PS não conseguir negociar este Orçamento do Estado com forças à sua esquerda?
Tenho pena. Mas nisso a responsabilidade não é só do PS, também é dos outros. Há aqui visões muito diferentes da sociedade, da Europa. Portugal está na União Europeia (EU), assumiu, bem ou mal, compromissos com a UE, e os compromissos são para cumprir. As posições dos outros partidos da esquerda são diferentes. O PCP tem uma posição, a do Bloco de Esquerda não é exactamente a mesma. Estes partidos não têm a mesma visão da governação nem a mesma visão do que é ou deve ser a UE, ou do que é ou deve ser a posição de Portugal na UE. Portanto, era difícil. Embora tenha havido situações no passado, mesmo em alturas de grande tensão, em que houve negociações. Recordo-me do PCP, já não sei há quantos anos, ter, por abstenção, viabilizado um Orçamento do PS.
Diz que consigo na Presidência não haveria banqueiros(2) a mediar o Orçamento. O que quis dizer com isso?
Quis dizer isso mesmo. Estamos nesta situação porquê? Porque o Estado, aliás, os Estados europeus, mas o Estado português também, endividaram-se muito para garantir o sistema financeiro. Gastámos quatro mil milhões logo no BPN. E a banca não contribuiu: beneficiou, quando foi responsável de grande parte desta dívida pública em que nos encontramos. Os Estados membros da União Europeia tiveram de salvar o sistema financeiro, tiveram de gastar ainda muito dinheiro para atenuar os efeitos da crise, e agora a banca aí está outra vez a ditar as regras. Eu sei que a banca está também aflita e em estado de necessidade porque tem um problema de financiamento no estrangeiro, mas há independência do poder político em relação ao poder económico. É uma questão de pudor e de recato. Agora a maneira como isto foi feito... Os bancos vão ao Presidente da República, os bancos vão ao Governo, os bancos vão aos partidos, ao principal partido da oposição. Por estado de necessidade ou não, mas não são eles que vão ditar as regras do jogo ou sobrepor-se à decisão dos órgãos legítimos democráticos. Temos falado muito da dívida pública e muito pouco do endividamento privado!
Que é maior...
Que é maior, é o dobro! E também aqui o Artur Santos Silva, que volto a citar, diz: "Quando nós entrámos para o euro, não interiorizámos o que isso significava." Quando digo nós, é nós todos: cidadãos, empresas, o Estado, os bancos - ele não fala dos bancos, mas os bancos também - não interiorizaram! Não tiveram em conta o juro primário, e depois as pessoas puseram-se a gastar, a gastar... A banca privada fomentou uma publicidade agressiva, fomentou um consumismo desbragado. É o compra-se agora e paga-se depois no privado e no público que nos levou a esta situação. E deviam também ser tomadas algumas medidas para combater o endividamento privado e o papel dos bancos, que têm responsabilidades nisto. Os bancos e os cidadãos.
O que faria se fosse presidente da República (PR) e o Orçamento fosse chumbado?
O PR aí não tem grandes hipóteses.
José Sócrates já disse que não teria condições para governar, insinuou que apresentaria um pedido de demissão. O que poderia aí o PR fazer?
Pode conversar, pode moderar. Olhe, ouvi na TSF uma estranha entrevista do meu amigo e colega do Conselho de Estado António Capucho, que sobre a questão do Orçamento e da mediação entre o PS e o PSD propunha o dr. Ernâni Lopes, o Artur Santos Silva e o Guilherme de Oliveira Martins, como mediadores. Então e o Presidente da República? Onde está a capacidade de moderação e de mediação do Presidente da República? Acho que tem havido uma certa falta de comparência dele. Respeito-o, considero-o um homem honrado, tem as suas visões. Mas isto é um problema político, e tem havido uma certa falta de comparência. Numa situação destas, não me parece que o Orçamento vá ser chumbado, mas tudo pode acontecer. Qual é o papel do Presidente? Não é ter um programa próprio! É o papel de moderador, de árbitro! E aí o Presidente interpretou mal, em meu entender - disse-lhe isso no primeiro debate que tivemos sobre os poderes presidenciais -, a cooperação estratégica, que tem subentendida a partilha das definições da linha do Governo, e que deu naquilo que deu. E também da vigilância sobre a situação financeira! O próprio dr. Nogueira Leite disse que nesse aspecto o Presidente falhou. Ele é economista, é professor de Finanças, criou a ilusão de que por tudo isso ia resolver... Mas chegámos a esta crise, e aquilo em que o Presidente poderia ter sido útil, nessa vigilância, no ter tido uma intervenção aqui e lá fora...
Segundo a sua opinião, não o fez?
Não o fez.
O que pensa das condições apresentadas esta semana pelo PSD para viabilizar o Orçamento? Há um recuo nos impostos...
Pois, há um recuo nos impostos, com os títulos da dívida pública...
É uma boa base de trabalho para conseguir o entendimento?
Penso que é uma base de trabalho que o Governo poderá - mas não me quero substituir ao Governo - considerar. Sobre o IVA e as parcerias público-privadas penso que será mais complicado. Sobretudo os 2% do IVA implicam mil milhões de receita, ficava a receita reduzida a metade, e isso ia estragar as contas todas. Penso que é difícil, mas não queria entrar nessa discussão.
As despesas do Estado social têm muito a ver com a situação financeira a que o País chegou?
O Estado social é a nossa garantia. Ponho- -lhe esta questão: imagine que estávamos numa situação destas, com um Orçamento destes ou com um chumbo de um Orçamento destes, em que as pessoas teriam de pagar a escola, ao médico só poderiam ir se tivessem seguro...
Mas a questão não é o Estado social, é a dimensão do Estado social.

Aí há alguma coisa a fazer?
Só agora estamos a aproximar-nos da dimensão média dos países da OCDE, que é 21%, 22%. Estamos a 20%, se não me engano, do produto interno bruto.
No próximo dia 24 de Novembro vai haver uma greve geral, coisa que não acontece há 22 anos. Vai fazer greve nesse dia?
Não faço greve, não é? (risos)
Compreende os motivos dessa greve?
Compreendo. É um facto sindical, político e democrático novo. As duas centrais têm tido dificuldade de convergência e de entendimento, e agora apresentaram as duas juntas o aviso prévio. Acho que os sindicatos têm um papel muito importante, como têm os outros parceiros sociais! Sou favorável à concertação social e ninguém tem falado com eles. Andam os banqueiros, mas ninguém fala com os sindicatos e ninguém fala com os parceiros sociais. Deveria ouvir-se os trabalhadores, respeitar os trabalhadores e ter em conta que é uma greve geral pelas duas principais centrais sindicais. Noutras situações e noutros tempos, isso seria uma coisa tremenda. Hoje liga-se menos, hoje essas coisas valem menos do que valiam. Mas acho que valem muito, que é preciso ouvir a voz dos sindicatos, a voz da rua e a voz dos trabalhadores. Eles representam milhões de trabalhadores que são aqueles que mais vão sofrer com esta crise, e é preciso pensar nas pessoas. E estou, política e democraticamente, do lado desses.

(1) Conselho de Estado - Órgão consultivo do Presidente da República, que este tem de ouvir antes de destituir o Governo, dissolver o Parlamento ou fazer declarações de guerra e paz
(2) Banqueiros - Presidentes da CGD, do BCP, do BPI e do BES reuniram-se com o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, e depois com Teixeira dos Santos, alertando para o risco da degradação do 'rating' do País

In DN, por JOÃO MARCELINO, 24/10/2010

samedi 23 octobre 2010

Razões para a Mudança

01 - Sou candidato por Portugal e pela necessidade de dar uma nova esperança à democracia portuguesa. Apresento-me por decisão pessoal. Sou um candidato supra-partidário, mas não neutro. Sou um republicano para quem a ética republicana não se funda apenas na lei, mas na consciência e no comportamento. Sou um socialista para quem o socialismo, antes de ser uma ideologia e um projecto de poder, é uma ética e um humanismo. Sou um democrata para quem a democracia deve ser uma vivência transparente e não um jogo obscuro de poder pelo poder. Sou um patriota para quem Portugal não é apenas um país pequeno. Somos um país rico de uma das línguas mais faladas no mundo, rico de história, uma experiência multissecular na convivência com outros povos e outros continentes. Uma nação não é só números, é a alma do seu povo, que pulsa em nós e nos leva para além da adversidade.



02 - Candidato-me para inspirar o cumprimento do projecto que está inscrito na Constituição: uma República moderna, com liberdades e garantias individuais, com direitos sociais inseparáveis dos direitos políticos. E sobretudo uma República em que as novas gerações possam ter o seu lugar e uma vida sem constante precariedade. Um República onde a Justiça funcione e onde a igualdade de oportunidades não seja uma retórica vazia.



03 - Os portugueses podem orgulhar-se da sua Constituição, uma das mais avançadas da Europa. Nos seus princípios, encontramos o espírito do 25 de Abril e os pilares do Estado de Direito: subordinação do poder económico ao poder político democrático; autonomia e independência da comunicação social; separação dos poderes político, legislativo e judicial. Sempre me opus e oporei às promiscuidades que contaminam a saúde da República.



04 - Trabalho precário, desemprego, desigualdade, insegurança, incerteza, ausência de perspectivas e de futuro. Estes são os sinais de uma crise que atravessa o mundo e que não é mais uma crise cíclica, é uma crise estrutural, de que só se sai com outro paradigma. A economia que nos conduziu aqui não é a economia de que precisamos. A economia que fecha todos os dias fábricas e empresas, que estimula o consumismo desenfreado e que provoca novos sobre-endividados não é a economia de que precisamos. A economia em que os lucros são sempre privados e as perdas são sempre socializadas. Precisamos de outra economia. Uma economia que permita a uma família de desempregados sobreviver com dignidade. Uma economia de quem partilha e é capaz de multiplicar valor sem exploração e sem subsidio-dependência. Uma economia de criação de emprego, inovação e valorização de empresas e trabalhadores. Uma economia em que o aumento dos salários e das prestações sociais não só não é um obstáculo, como é um factor de crescimento e bem-estar.



05 - É preciso repensar os critérios monetaristas que estão a contaminar a Europa. Há uma grande desorientação da União Europeia. A UE apercebeu-se de que a crise financeira desencadeava a crise económica. O plano anti-crise implicou aumento de despesa pública, sem o qual a crise não seria debelada e o desemprego aumentaria ainda mais. Mas, sob a pressão dos meios financeiros, retomou-se o discurso da estabilidade monetária, com efeitos perversos sobre o crescimento económico. Este modelo está esgotado. É preciso começar a discutir um novo modelo estratégico de desenvolvimento.



06 - A reeleição do actual presidente seria uma porta aberta a todos os ataques aos serviços públicos, aos direitos do trabalho e à Constituição. E seria um primeiro passo para a concretização do sonho da direita: uma maioria, um governo, um presidente. A outra opção é não nos conformarmos e fazer da próxima eleição presidencial uma grande mobilização, não só das esquerdas, mas de todos aqueles que querem ver renascer a esperança num Portugal com justiça e solidariedade.



07 - Esta candidatura quer criar uma dinâmica que enfrente a ofensiva contra o conteúdo social da nossa democracia, contra a Escola Pública e o Serviço Nacional de Saúde. Não vamos apenas escolher quem vai ser o próximo Presidente da República.Trata-se de decidir que democracia teremos no futuro. Para mim, uma democracia sem direitos sociais será uma democracia empobrecida e mutilada. Eu serei uma garantia, perante qualquer governo, de defesa da Constituição e do seu conteúdos em matéria de justiça social e serviços públicos.



08 - Ninguém tem o monopólio das soluções. Eu não excluo ninguém desta candidatura. Quero que seja uma candidatura de inclusão, de cidadania, de mobilização. Que estejam comigo todos os que acreditam na democracia com essa perspectiva. Todos os que têm filiação partidária, seja qual for. Todos os que não têm filiação partidária. Todos os que querem uma democracia melhor. Todos os que defendem um projecto humanista para Portugal.



Vamos vencer este combate. Não é por mim, é pela democracia e é por Portugal.





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Manuel Alegre na Madeira

Manuel Alegre estará na Madeira nas próximas 3ª e 4ª feira, tendo dirigido aos eleitores madeirenses uma carta em que saúda a autonomia regional e assume o compromisso, como Presidente, de "desenvolver uma influência positiva e unificadora" no sentido de "acarinhar" as expressões de poder regional.
Recorde-se que Manuel Alegre apresentou a sua candidatura nos Açores, onde prestou homenagem à autonomia, "sinónimo de liberdade, democracia, desenvolvimento e justiça social", cujo "aprofundamento e aperfeiçoamento" são parte integrante da identidade nacional portuguesa.
O tema da autonomia regional foi também um dos que mais afectou as relações entre o actual Presidente e a Assembleia da República, a propósito do Estatuto dos Açores.
In Site de Manuel Alegre, 23/10/2010

Manuel Alegre em entrevista à TSF e DN


Manuel Alegre em entrevista à TSF e DN, Domingo às 11h00

Domingo, dia 24 de Outubro, às 11h00, oiça na TSF entrevista a Manuel Alegre, também divulgada na edição de domingo do DN.

vendredi 22 octobre 2010

TENDÊNCIA SINDICAL SOCIALISTA DA UGT APOIA MANUEL ALEGRE

As próximas eleições Presidenciais são muito importantes para o nosso País.
Os trabalhadores portugueses confrontam-se com uma situação particularmente difícil:
· Um desemprego muito elevado e crescente, atingindo sobretudo os jovens;
· agravamento das situações de pobreza e exclusão, em especial entre idosos;
· Uma ameaça de ruptura financeira do País, com consequências graves em termos sociais, económicos e políticos.

Um Presidente tem uma magistratura de influência que poderá ser extremamente importante, particularmente neste momento, assegurando o regular funcionamento das Instituições Democráticas, o reforço do diálogo a todos os níveis e favorecendo políticas que tenham presentes, em especial, os impactos sociais.
As Candidaturas Presidenciais são individuais, devendo ter em conta a efectiva vontade de vencer, no quadro de um projecto político alternativo e não serem meros instrumentos de estratégias político-partidárias.
Todo o País conhece Manuel Alegre e o seu trajecto de lutador pela liberdade e pela democracia, antes e depois do 25 de Abril. Assumiu a luta contra a ditadura, arriscando a vida e a liberdade. Esteve na primeira linha na luta pela consolidação da democracia plural e participada, saída da Revolução de Abril.
Todos conhecemos a dimensão cultural, política e ética de Manuel Alegre e a sua determinação no assegurar o respeito pelos compromissos.
Uma candidatura presidencial tem por base um programa mas, após eleito, o presidente passa a ser o Presidente de todos os Portugueses.
Consideramos que MANUEL ALEGRE, enquanto Presidente da República:
· Garantirá o regular funcionamento das Instituições Democráticas, com uma Presidência interveniente, fora do quadro de intervenção partidária;
· Defenderá o Estado Social e uma Administração Pública de Qualidade, garante da igualdade de oportunidades e duma melhor Economia e Sociedade;
· Promoverá o diálogo social a todos os níveis;
· Será extremamente sensível aos problemas dos portugueses que hoje sofrem a pobreza, a exclusão, o desemprego, a precariedade e a insegurança no emprego;
· Promoverá o diálogo com os jovens e a sua integração na vida activa;
· Promoverá um combate às desigualdades sociais e apoiará políticas de igualdade de oportunidades, a todos os níveis;
· Defenderá a supremacia do poder político sobre o poder económico e a não subordinação do Estado aos interesses destes.

Queremos um Presidente activo, socialmente empenhado, garante do regular funcionamento das Instituições Democráticas e simultaneamente um Presidente de todos os Portugueses.
Por isso a Tendência Sindical Socialista da UGT vem manifestar o seu apoio e empenhamento na campanha do Candidato MANUEL ALEGRE.

Lisboa, 22 de Setembro de 2010
A TSS/UGT

O desemprego é o principal desperdício nacional



Depois de “muitas dúvidas”, Manuel Alegre reconhece que a regionalização é necessária ao desenvolvimento de Portugal. Em entrevista ao Correio do Minho e Rádio Antena Minho, o candidato à presidência da República diz que “o desemprego é o principal desperdício nacional”.
16 de Outubro de 2010

P - Com os apoios do Bloco de Esquerda e do Partido Socialista, tem agora mais possibilidades de ganhar as eleições presidenciais?
R - Eu não venho para cumprir calendário, venho para disputar a vitória, como disputei em 2006, em que fiquei sem apoios partidários e a menos de 30 mil votos da segunda volta. É verdade que foi em Braga, a 3 de Novembro, que começou esta minha caminhada. A minha candidatura nasceu, outra vez, de uma rede de cidadania. Formalizei-a como uma candidatura independente e suprapartidária. É essa a sua natureza, independentemente dos apoios partidários. O meu discurso é autónomo, pode até desagradar às forças políticas que me apoiam.
P - Mas a situação do candidato Manuel Alegre é hoje diferente da de 2006. Fica a sensação de que estará um pouco mais limitado.
R - Isso são estereótipos. Como deputado agi em consciência, votei várias vezes contra o meu grupo parlamentar. Neste momento não sou deputado, não sou candidato contra o Governo nem contra a oposição. No nosso regime semi-presidencial, o Presidente não se apresenta com o programa de um partido, nem sequer com um programa próprio. Apresenta-se para ser um moderador, um árbitro, para interpretar o interesse nacional com imparcialidade e exercer uma magistratura de influência.
P - Tem o apoio formal do PS e do BE, mas muitos analistas consideram que o PS não está verdadeiramente empenhado na sua candidatura...
R - Isso é outro estereótipo. O PS e o BE têm projectos políticos diferentes, mas coincidem no apoio a um candidato. Reuni há pouco tempo com responsáveis políticos do PS, com todos os presidentes das ‘concelhias’ do distrito de Braga. Tivemos uma conversa olhos nos olhos muito franca como não tinha visto em parte nenhuma.
P - Nessa reunião não notou a ausência de Mesquita Machado?
R - Eu tenho uma relação pessoal muito boa com ele há muitos anos. Compreendo a sua posição, mas tenho a convicção de que se o voto dele for preciso para a minha eleição ele não faltará.
P - O seu grande objectivo nesta altura é passar a primeira volta?
R - Uma eleição democrática não é uma coroação. Não há vencedores nem perdedores antecipados. O objectivo é a vitória, mas o objectivo realista é a segunda volta. Acho que a segunda volta, não só é possível como é provável. A sondagem do Expresso, em urna fechada e presencial, mostra que a segunda volta é possível e que, em metade do país, em Lisboa e no Sul, o actual Presidente já teria perdido a maioria.
P - Este cenário de crise que o país vive, que exige um maior protagonismo de alguns agentes políticos, em particular do Presidente da República, acaba por provocar mais desgaste ao candidato Cavaco Silva?
R - Isto é difícil para todos. Há quem peça que se compreendam os políticos, o que eu acho é que os políticos devem compreender as pessoas que são afectadas com o congelamento de salários e pensões e cortes nos apoios sociais. Dizem que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, mas quem é que vive acima das suas possibilidades? Os desempregados? Os 57 por cento de portugueses que vivem com 900 euros por mês? É preciso dizer quem é que vive acima das suas possibilidades. Nós temos um programa de endividamento que nos tira autonomia de decisão, sobretudo no estado em que se encontra a Europa. Nós aderimos a uma Europa de crescimento, de prosperidade social partilhada. Neste momento temos uma Europa em que a Alemanha ditou políticas de austeridade. Isso leva à recessão.
P - Isso é algo a que um país como Portugal tem dificuldade em fugir.
R - Não foge. É muito difícil. O problema do nosso país passa pela economia. Só se fala do endividamento e das finanças, mas sem crescimento económico não se resolve o problema do emprego, nem se liberta o país desse encargo da dívida.
P - Não acredita que as medidas recentemente aprovadas possam potenciar o crescimento económico?
R - Uma coisa é o rigor e a consolidação das finanças públicas, necessária à sustentabilidade do Estado social e dos serviços públicos, rigor na gestão dos recursos e na gestão do Estado. Outra coisa é uma política de austeridade que conduz à recessão, e uma recessão pode conduzir a outra recessão. O problema que neste momento se põe é que não podemos estar a dizer aos portugueses que este ano vai ser difícil, para o ano será mais difícil e, se calhar, daqui a dois, ainda mais difícil! É preciso dar um sentido à vida difícil das pessoas.É preciso discutir o sentido da Europa. Eu não calo, nem me calarei perante esta pressão das empresas de ‘rating’, a repressão especulativa sobre o nosso país, o aumento artificial da dívida soberana e dos juros que estamos a pagar. É preciso bater o pé e discutir a Europa. A Europa é a soberania partilhada, não é esta dissolução da soberania nacional.
P - Tem clamado contra o bezerro de ouro em cima do Estado, mas o que é certo é que ele continua em cima.
R - Disse-o aqui em Braga. As soluções preconizadas pelas instâncias internacionais, pelo FMI, pela OCDE, pelo Banco Mundial e pelo Banco Central Europeu são soluções que provocaram o colapso financeiro mundial e a crise que estamos a viver. As mesmas causas produzirão as mesmas consequências. Os Estados Unidos estão a procurar um caminho muito diferente do que é hoje o caminho da Europa. A Alemanha não tem de se queixar porque a indústria alemã exporta dois terços para os países da Europa. Nós estamos a produzir para os bancos alemães. Isso revolta-me.
P - Apesar desta sua defesa do Estado social, muitas pessoas consideram que o Presidente da República pouco mais é do que uma rainha de Inglaterra. Se for eleito Presidente da República, poderá ter uma acção mais eficaz?
R - Eu contra o homem providencial e não prometo aquilo que não posso cumprir. Não me candidato para governar. Esse foi o grande equívoco de Cavaco Silva, que interpretou mal o exercício dos poderes presidenciais, com aquela ideia da cooperação estratégica, que tem subentendida uma partilha da definição das linhas do Governo. Não há dois primeiros-ministros nem o Presidente da República é um super primeiro-ministro.
P - O que é que teria feito de diferente?
R - Além dos poderes de dissolução, de mensagem e de nomeação de altas figuras do Estado, o Presidente da República tem o poder da palavra e do exemplo, o que é importantíssimo. Tem os poderes explícitos e os poderes implícitos, que resultam de ser o único órgão unipessoal directamente eleito pelo povo português. O Presidente quando fala condiciona a vida política.
P - Se fosse Presidente, que papel assumiria de diferente no actual quadro de negociação do Orçamento de Estado para 2011?
R - Eu até tenho uma boa relação pessoal com o actual Presidente. O que me tem separado dele é de natureza política. Por exemplo, a maneira como ele exerce os poderes mais simples como a promulgação de leis. O Presidente da República, em relação a várias leis, promulga e depois desvaloriza-as. Isso não faz sentido. Se quer vetar, veta. No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que o seu eleitorado teria compreendido era o veto. Era derrotado depois na Assembleia da República, mas ficava o seu acto simbólico. Como em relação a outras leis, ele promulga e depois desvaloriza. Isso não é bom para a saúde da República, nem para os poderes presidenciais.
P - Isso vai de encontro ao que disse numa entrevista em 2006, que o actual Presidente da República é alguém que tende a crispar e a criar tensões na política?
R - Ele não é uma pessoa muito distendida. Tem um pendor executivo. Acho que tem mais vocação para ministro das Finanças e Primeiro-Ministro. Quando outros diziam que não dormiam descansados e que até foram muito agressivos com ele, agora fazem-lhe grandes elogios.
P - Como vê esses elogios vindos de pessoas do seu partido?
R - Não há muitos camaradas meus a fazer elogios a Cavaco Silva.
P - Mário Soares, recentemente, elogiou a postura de Cavaco Silva...
R - Isso é um problema da consciência do dr. Mário Soares. Nós estamos num combate de esquerda e direita e num combate por uma certa concepção de democracia.
P - São as ideologias que estão em jogo nestas eleições presidenciais?
R - Há pessoas do PSD, do CDS e até monárquicos que votaram em mim, que subscrevem a minha candidatura pelo entendimento que têm da figura do Presidente da República. Há uma certa concepção da democracia que está em causa. A personalidade do candidato à presidência configura muito a natureza de um regime semi-presidencial, porque não há nenhuma imposição constitucional que impeça um Presidente de se apresentar com um programa ou aliado a um conjunto de forças políticas com um programa diferente. Simplesmente isso modificará a natureza do nosso regime semi-presidencial. Há projectos e propostas que tendem a esvaziar o conteúdo social da nossa democracia. Quer quanto ao exercício dos poderes presidenciais, quer quanto à preservação da nossa democracia tal qual ela está consagrada na Constituição da República. Sobretudo no que diz respeito ao Estado social, não é indiferente quem é que vai estar na presidência.
P - Se for eleito, terá um processo de revisão da Constituição da República. Já afirmou que a proposta do PSD pode pôr em causa questões essenciais do Estado social...
R – Não se trata da revisão constitucional, mas da visão do país, do exercício do cargo de Presidente e da democracia.
P - Também disse que, se fosse Presidente da República, vetaria todas aquelas leis que colocassem em causa o Estado social.
R - Claro. Qualquer lei, venha de que partido que tente desvirtuar o Sistema Nacional de Saúde, eu veto. O mesmo para preservar o conceito de despedimento com justa causa, bem como a escola pública. Defenderei isso com todos os poderes que me confere a Constituição.
P - Gostaria de estar a disputar esta pré-campanha com o anúncio formal da recandidatura de Cavaco Silva?
R - Não falo sequer desse problema.
P - Considera que ele já está a fazer campanha?
R - Há aqui uma certa desigualdade. Eu acho que ele faz campanha, ou pelo menos há uma confusão entre o que o exercício de funções presidenciais e o ir a inaugurações nos seus bastiões eleitorais. Todos os actos que eu fizer agora já têm que ser declarados para escrutínio do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas. O Presidente da República não está obrigado a isso. Há aqui uma desigualdade. Ele está em vantagem.
P - Ou seja, a questão não é tanto Cavaco Silva não ter ainda anunciado a recandidatura?
R - Acho que era bom para ele próprio deixar de praticar certos actos. De repente deu-lhe para uma intensidade de visitas e de inaugurações...
P - Como é que pretende inspirar, mobilizar e unir, três ideias que norteiam a sua candidatura?
R - Há dias, numa sessão que tivemos em Lisboa, o meu mandatário financeiro disse as quatro razões pelas quais me apoiava: não sou economista, nunca fui Primeiro Ministro, nunca fui ministro das Finanças e sou poeta. Eu acho que é preciso ter uma visão diferente do país. O Presidente da República deve ter essa visão cultural e histórica, do papel da língua portuguesa. Deve ser capaz de inspirar.
P - Estamos a olhar apenas para os números?
R - É preciso olhar para as pessoas. Neste momento os portugueses precisam de uma palavra de conforto. Precisam que se esteja perto deles. As pessoas estão perplexas e vão ficar aflitas quando isto começar a doer. Mesmo que o Presidente não tenha uma varinha mágica, a sua presença abre janelas e inspira outro tipo de debates. O Presidente da República pode emitir a sua opinião e inspirar.
P - Fazer renascer a República como já disse?
R - Enquanto ideal de liberdade. Há certas confusões entre a política e os interesses. É preciso que o poder político democrático seja, de facto, independente dos interesses económicos e outros.
P - Como vê as grandes obras públicas como o TGV e o novo aeroporto neste contexto de crise?
R - Deve haver uma estratégia integrada de investimentos públicos. É preciso investimento público como estímulo à economia. Roosevelt estimulou toda a economia americana e até ajudou a criar a classe média americana com obras públicas. Nós precisamos de um grande porto de mar. O Presidente Cavaco Silva tem razão quando diz que precisamos de descobrir o mar, mas também precisamos de uma ligação ferroviária rápida. Se temos um grande porto e depois não há transporte rápido para a Europa... Também é preciso saber se há meios ou quando é que se deve fazer. Se neste momento de crise financeira, essas obras se devem fazer ou não é outro problema. Há muitos outros investimentos públicos que são possíveis, que não implicam importação e que utilizam mão-de-obra nacional: as escolas, os hospitais, a requalificação urbana das nossas cidades.
P - Nesta altura em que percorre o país de Norte a Sul como julga que pode ser resolvido o problema estrutural da desertificação do interior?
R - Qualquer dia vai ser preciso um D. Sancho I que faça o repovoamento. Esse é um problema que também tem a ver com a regionalização. Eu já tive muitas dúvidas sobre a regionalização, mas vendo o problema da Espanha, acho que ela é necessária. Tem que haver é consenso e bom senso sobre isso. O grande mal é que, cada vez que se começa a discutir a regionalização, há pessoas que perdem o bom senso e começam a confundir as coisas. Tem de haver um pacto de regime, um pacto de bom senso entre as principais forças políticas.
P - A regionalização pode ser resolvida através de referendo?
R - Implica sempre um referendo.
P - Há quem proponha a criação de uma região piloto para testar.
R - Isso implica uma revisão constitucional. Falou-se do Algarve, mas já veio o Porto a querer isso. A regionalização deve ser feita em devido tempo, com bom senso, muito bem pensada e com base nas cinco regiões plano.
P - Será uma das suas bandeiras, se for eleito?
R - Isso é um imperativo constitucional.
P - Que tem sido adiado.
R - Pois. Neste momento, há outras prioridades.
P - O distrito de Braga é particularmente afectado pelo desemprego. Como vê a actual situação sócio-económica do distrito?
R - O desemprego é o principal desperdício nacional. Sem crescimento económico, se não há crédito, as empresas morrem.
P - Na sua campanha vai mostrar mais os bons exemplos como fez nesta última deslocação ao distrito de Braga?
R - Já fiz isso da outra vez. É difícil porque as imagens não passam. Vi a Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho que é uma coisa fantástica. Valeu a pena lutar por um país novo para ver coisas destas. Tal como aquela empresa que hoje pertence à Microsoft (n.r. Mobicomp), que é um exemplo de um novo tipo de empreendedorismo, de como é importante a massa cinzenta e de como um investimento internacional feito pelo mérito de gente jovem formada na Universidade do Minho pode ser útil à economia portuguesa.
P - Que visão económica terá como Presidente da República?
R - A questão é que estamos formatados da mesma maneira. As empresas de ‘rating’ que estão a criar esta situação a Portugal enganaram-se completamente nas previsões da crise de 2007. Às televisões só vão os economistas que dizem sempre as mesmas coisas. Enganam-se nas previsões e são todos campeões do corte, o que eu acho uma coisa indecorosa. Um ex-ministro das Finanças que fez grandes cortes diz agora que ainda cortava mais. Porque sei a filiação religiosa dele, apetecia-me dizer-lhe que Cristo não falava assim. Tem que haver sensibilidade social e pensar nas pessoas. Como é que pode haver um campeonato dos cortadores! O meu contributo é poder ser um garante da estabilidade social. Sem estabilidade social não há estabilidade política.
P - Em termos práticos, como fará isso? Perante, por exemplo, os cortes no abono de família, o que diria ao Primeiro Ministro?
R - Chamava a atenção. Cuidado com isso. Já disse que há 57 por cento de portugueses que vivem com 900 euros por mês. Isso não se pode fazer sem pensar muito nas pessoas. Não estou a dizer que quem tomou estas medidas não as tomou com o coração a sangrar, mas é preciso pensar mais nas pessoas e procurar outros caminhos.
P - Mas nesta economia globalizada, parece ser uma fatalidade este tipo de medidas?
R - Não, não é uma fatalidade.
P - Podemos ignorar o FMI e as agências de ‘rating’?
R - Já fomos pioneiros quando partimos pelo mar fora e fizemos a primeira revolução cultural e científica; fomos pioneiros na revolução liberal; quando se fez a revolução republicana só havia duas repúblicas: a França e a Suíça; e o 25 de Abril inaugurou uma nova era democrática no mundo, abrimos o caminho à tradição democrática na Espanha, na Grécia e noutros países. Somos pequenos, mas não temos que estar sempre a ser os bons alunos dos maus exemplos, das injunções e das imposições que vêm de fora. Sei que há certas situações em que é difícil resistir sozinhos, mas podemos elevar a voz, discutir e propor novas soluções. Quando fizemos a República também ficámos isolados, quando fizemos o 25 de Abril também houve muita incompreensão e cá nos aguentámos.
P - Mas estamos agora com um enquadramento diferente, até pelo posicionamento europeu.
R - Em Portugal ninguém gosta de discutir a Europa. Temos de discutir politicamente a Europa. Isto não é uma federação monetarista. Uma moeda única implica mais união política, coordenação das políticas económicas e sociais, mas também harmonização fiscal e de salários. Não é só esta imposição de políticas de austeridade, decididas pelo Estado mais poderoso, a Alemanha. É sempre possível resistir, bater o pé.
P - Como vê a greve geral de 24 de Novembro?
R - É uma resposta dos trabalhadores.
P - Faria greve se estivesse no activo?
R - Sempre me bati pelo direito à greve. Respeito e compreendo. Os sindicatos existem para defender os direitos dos trabalhadores e fazer ouvir a sua voz em momentos difíceis. Sou partidário da concertação social e acho desejável que se encarem os sindicatos como algo essencial à construção da democracia.
P - Como vê as outras candidaturas que estão no terreno?
R - Sem desprezar ninguém, acho que a candidatura de Francisco Lopes, do PCP, é natural. Até pode ser útil que vá às urnas. Sobre Fernando Nobre não me pronuncio porque não sei o que é que ele representa, como se define politicamente. O confronto vai ser entre o actual Presidente e a minha candidatura.
P - Numa segunda volta terá condições para unir a Esquerda?
R - Será muito difícil para Cavaco Silva e ele sabe isso.
P - Mesmo contrariando a ideia de que um Presidente nunca perde a reeleição?R - Há sempre uma primeira vez. Há eleitorado à Direita muito descontente com Cavaco Silva. A Direita tem medo de uma segunda candidatura, a Esquerda pode dar-se a esse luxo.
In, Correio do Minho e Rádio Antena Minho, entrevista de José Paulo Silva, 16 /10/2010