lundi 17 janvier 2011

A mulher de Alegre. "Foi amor à primeira vista. Fascinou-me tudo"


Quem é esta mulher "vulgar, normal" que quer ser a próxima ocupante do Palácio de Belém?


Mafalda Durão Ferreira é mulher de Manuel Alegre e muito mais do que isso.


O i falou com ela num dos intervalos da campanha.



Defende um papel mais activo da mulher na sociedade, as causas sociais e os exemplos positivos do país. Até aqui, o habitual para uma candidata a "primeira-dama". Mas Mafalda Durão Ferreira - que não se importa que lhe chamem Mafalda Alegre - dá-lhe o cunho pessoal. O olhar profundo de quem trabalhou anos a fio com emigrantes compõe a sabedoria da experiência e é essa acção que quer levar para a presidência da República ao lado do marido. Transporta consigo a certeza de que vai entrar pelas portas de Belém. Como primeira-dama? "Isso é o que os portugueses vão conhecer", diz com a convicção de que a vitória está garantida.Desta vez não precisou de tirar férias para acompanhar o marido. Quinze dias de campanha de braço dado - não de mão dada. "Isso nunca viu", responde a uma mulher que a aborda em Portalegre. E não anda. Mafalda Durão define-se como independente e é de forma independente que anda ao lado (e atrás) de Manuel Alegre durante toda a campanha eleitoral. As manifestações de carinho não passam de olhares e de cochichos, mas não é preciso mais. Foi o olhar que a juntou a Manuel Alegre vai fazer 40 anos em Abril. "Foi amor à primeira vista", diz Mafalda. E aconteceu numa fila de cinema algures em Paris, em 1971. Mas como se define esta mulher, alta, loira e com uma presença difícil de ignorar? "Tenho 63 anos, trabalhei na função pública, sou mãe de três filhos e avó de dois netos... ah! E mulher de Manuel Alegre". É uma definição o estatuto conjugal? "Não define ninguém", responde prontamente.Mafalda Durão já é reformada. Trabalhou toda a vida com emigrantes e chegou mesmo a ser subdirectora dos Assuntos Consulares. Conciliou sempre a profissão com a educação dos filhos, um tema em que ela e Manuel Alegre estiveram sempre de acordo. Até porque a independência é uma característica que cultiva. Assim como a rebeldia. "Conheci o meu marido em Abril e fomos para Argel em Junho, Julho. Foi muito rápido", diz. Também partilha a postura na vida com o marido. "Fascinou-me um pouco de tudo. Desde o aspecto intelectual, cultural, ao físico". E se tivesse de mudar alguma coisa no homem com quem partilhou os tempos do exílio na Argélia e depois um casamento que nunca andou longe das lides da política? "Não tenho pretensões a mudar as pessoas. A vida era bem mais simples se toda a gente funcionasse dessa maneira." Mas mesmo assim, ao longo das décadas, surpreendeu-se com o homem que tem "tudo desenhado na personalidade". "Surpreendeu-me ele ser um pai tão extraordinário e isso eu não adivinhava quando o conheci", acrescenta.Os olhos brilham quando fala do marido poeta. Diz que foi sempre assim e que continua a ser. E é esse amor que diz sentir que a leva a lutar todos os dias pela ida do companheiro para a Presidência da República. Mas recusa o rótulo de primeira-dama. "Ser mulher do Presidente não significa que se seja a primeira em nada. Há muitas outras mulheres que pelo seu trabalho são as primeiras em qualquer coisa." Mafalda não acha "que seja primeira em nada". "Sou uma mulher vulgar, normal. Tenho qualidades e defeitos mas não sou excepcional em coisa nenhuma", remata. Uma mulher na Presidência Não seria com certeza apenas a "mulher de". Há que mostrar os exemplos positivos, acredita. Há que "contribuir para a auto-estima do país". Como exemplo tem feito a mulher de Mário Soares, Maria Barroso, apesar de manifestar admiração por todas as mulheres de presidentes da República, desde Manuela Eanes a Maria José Ritta, ou mesmo a Maria Cavaco Silva. Mas são o "percurso de vida" e a "combatividade" de Maria Barroso que lhe ficam na memória. Cada uma "tem um caminho de vida diferente" e é também diferente da actual ocupante de Belém. "Acho que o actual Presidente da República lhe [a Maria Cavaco Silva] devia estar muito grato porque ela tem cumprido bem o papel e tem-se esforçado. Contribuiu para dar visibilidade às áreas sociais. Teve um percurso diferente do meu. Com certeza que eu, como mulher do futuro Presidente da República, Manuel Alegre, vou dar o meu contributo."E o que acha do actual Presidente? Silêncio, sorriso, pequeno suspiro. "Não sei se me compete a mim pronunciar-me, mas como sou uma pessoa frontal acho que ele às vezes podia ser mais claro". Depois, o pedido: "Não é um tema a que ache que se deva dispensar muito tempo". As críticas ficam para o marido que, comício sim, comício sim, não se engana no alvo. Mesmo assim não deixa de recordar um episódio repetido vezes sem conta por Manuel Alegre. "Tive um arrepio quando vi a imagem" - referia-se àquilo a que o marido chama de "humilhação" a que o presidente da República Checa sujeitou Portugal. "Ele baixou a cabeça", disse - recordando uma visita de Estado a Praga, na qual Cavaco, confrontado com as críticas de Vaclav Klaus ao défice excessivo de Portugal, ficou calado. Não se dispense então mais tempo a falar do adversário. Fale-se de Mafalda e de Alegre. "Acho que vou ser uma pessoa discreta, presente, atenta", mas não a incomoda a exposição pública. Já as críticas da imprensa - que "não é nem mansa nem suave" - às vezes são injustas: "Marialvismo. Acho que é primária. Quem diz isso é porque não o conhece nem sabe o significado do termo, o que é mais grave". Mafalda Durão Ferreira defende o marido, mas não o vai aconselhar a reformar-se caso o desfecho das eleições não seja o esperado. A reforma não é para um homem como Alegre, mas "cargos políticos" é que não. "Acho que ninguém se deve reformar da participação na vida política", defende Mafalda.Gostos Uma mulher que se tem como culta e que sempre viveu rodeada de pessoas cultas não sabe ser diferente. Será também uma das justificações que a empurrou aos 21 anos a comunicar aos pais que ia para França, e que a motivou uma vez mais quando lhes comunicou que ia casar. Pedir não fazia parte da personalidade.Mas agora deixa outros pedidos. Para que as mulheres portuguesas, que "estão em maioria nas universidades" e que "têm um índice de actividade senão o maior, pelo menos dos mais altos da União Europeia", estejam "atentas". A crise pode servir de desculpa para que surja "a tentação de fazer ressuscitar o paradigma da mulher que não trabalha e que trata da casa". Adoptou o discurso do marido. Manuel Alegre fala constantemente da visão conservadora de Cavaco que olha para as mulheres como "as fadas do lar".Personalidade Pede que o retrato não seja com o queixo levantado. As fotografias podem não mostrar aquilo que é: "Depois posso parecer arrogante", justifica. E a arrogância é uma característica que quer ver longe - tanto de si como do marido. Porque ter personalidade não se confunde com ser arrogante: "Sempre fui uma pessoa clara, alguém que diz aquilo que pensa", explica. Até ao marido - e foi por isso que chocaram "muitas vezes em ideias". "Mas pode ver-se isto pelo lado positivo. Completamo-nos", conclui.

In I, por Liliana Valente, 17 de Janeiro de 2011

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