jeudi 23 décembre 2010

Ricas notas tem Cavaco...

Defensor Moura pôs em causa a isenção e honestidade de Cavaco Silva, falando do caso do BPN. O recandidato a Belém, irritado, respondeu que não pode ser candidato quem «diz umas tretas e umas larachas». A troca de piropos continuou, até final, num debate em que não houve espírito de Natal
Cavaco Silva começou por dizer que «nem ia responder» aos ataques pessoais de Defensor de Moura, mas teve de o fazer. Confrontado com acusações graves de parcialidade, que incluiam o favorecimento de ex-governantes seus, em cargos públicos, e a posição do PR como accionista no BPN, ou o tratamento de privilégio de uma câmara do PSD, no Dia de Portugal -- caso que foi relatado por Defensor de Moura («tenho aqui os documentos») --, Cavaco perdeu a habitual fleuma e disse que o adversário alimentava uma «campanha suja».
À saída, Cavaco levantou-se e dirigiu-se à moderadora do debate na SIC, sem sequer olhar para Defensor Moura. A 24 horas da Consoada, o espírito natalício esteve ausente no confronto mais duro dos seis até agora realizados. Nunca ninguém tinha confrontado o PR desta forma.
Logo a abrir, o socialista que corre como independente, eu o mote: Cavaco não deve continuar em Belém porque «não tem isenção». E Defensor contou a história de ter, há dois anos, convidado o Presidente da República, como presidente da câmara de Viana do Castelo, para acolher as cerimónias do Dia de Portugal. Cavaco disse que sim, mas propôs que as cerimónias em Viana, autarquia socialista, decorressem ainda em 2008, por 2009 ser um ano pré-eleitoral.
«Eu compreendi, na altura. Mas depois [o Dia de Portugal] não foi em Lisboa, mas numa autarquia do PSD». Sobre este episódio, Defensor Moura ainda se queixa de ter gasto 165 mil euros numa tenda para a actuação da fadista Kátia Guerreiro, proposta pelo PR (a mandatária da juventude de Cavaco em 2006), sem que conseguisse comparticipação dos custos pela Presidência.
O 10 de Junho deste ano, numa câmara social-democrata [Faro, de Macário Correia, ex-governante de Cavaco] foi bem diferente, acusou Defensor.
Cavaco começou por recusar entrar na luta. «Não merece resposta porque não é uma crítica seria. Não vou perder tempo» e contra-atacou, exigindo um pedido de desculpas do adversário por ter dito qeu Cavaco tinha introduzido as SCUT (estradas sem custos para o utilizador) quando era primeiro-ministro. «Espero que peça aqui desculpa, a Ponte Vasco da Gamaera uma concessão, um candiato tem de saber a diferença». Defensor «enganou os portugueses aqui na televisão».
Depois de uma discussão técnica sobre a difernça entre SCUT, PPP (parcerias público-privadas) e concessões, na qual Cavaco atirou «vá ver nos livros» e Defensor concluiu que havia um ponto comum em todas estas formas de financiamento («O Estado fica com encargos prolongados»), o socialista aproveitou a Ponte Vasco da Gama para acusar Cavaco de favorecer os amigos.
«É relevante que um ex-ministro seu seja agora administrador», disse, referindo-se ao Ferreira do Amaral, ex-titular das obras públicas e agora responsável da Lusoponte.
Defensor elevou a parada dos ataques, relacionando ex-governantes de Cavaco a favorecimentos do PR. «Também no BPN [de que foi presidente outro ex-governante de Cavaco] houve muita tolerância com negócios ilícitos».
Neste caso, Defensor pôs ainda em causa a honestidade do PR: «Cavaco Silva soube beneficiar dos lucros chorudos do BPN», disse referindo os 145% de lucros obtidos em acções nominais.
Cavaco, neste ponto, já estava zangado. Depois de explicar que na privatização do BPN só agiu porque o Governo e o Banco de Portugal asseguraram que essa era a única forma de estabilizar o mercado financeiro, encarou Defensor Moura. «Há uma campanha desonesta e suja a que não vou responder», atirou. E jurou a sua honradez com um adágio: «Costumo dizer que quem quiser ser mais honesto do que eu tem de nascer duas vezes».
De seguida, enjeitou responsabilidades na actuação de seus ex-ministros. «O que é que tenho a ver com a vida profissional de peossoas que estiveram no meu governo há 25 anos?». E, comparando, com a família: «Se nem temos controlo sobre a vida dos nossos filhos depois de eles sairem de casa!»
Cavaco quis ainda esclarecer que não especulara ou obtivera lucros ilegítimos no BPN. «Eu e a minha mulher temos posto parte das nossas poupanaças do BPN», como noutros bancos, com a «indicação» aos bancos de «aplicar o melhor que puder» o dinheiro.
O casal Cavaco, assegurou Cavaco, fica «anos sem lhes tocar». E concluiu na resposta: «Essas campnahas desonestas e sujas nao peguem comigo».
O actual PR tentou a seguir fazer passar as suas propostas para o próximo mandato.
Garantiu que estará «sempre próximo das pessoas», «dos reformados», «dos empregados», definiu a estratégia de combater o desemprego e o endividamento externo. Respondendo a uma pergunta sobre a aprovação dos casamentos gay, disse «não sou Presidente de uma facção». E citou um professor da Universidade Católica (Cavaco começa a ser rotineiro a citar académicos e membros do PS) para responder ao seu eleitorado mais conservador: «Se o Presidente da República se conduzisse a todo o momento pelas sua convicções religiosoas e filosóficas não seria o garante das institutições».
Sublinhando os seus conhecimentos e experiência na economia e na política externa, não resistiu a atirar duas farpas. A primeiro: «Constato que não há uma única ideia para o futuro de Portugal». A segunda, directa a Defensor Moura: «Não se deve candidatar a Presidente da República por que se diz umas tretas, umas larachas»
O ambiente ficou definitivamente toldado. Defensor fez-se escandalizado. «Chamar tretas e larachas por favorecimentos...» e Cavaco retorquiu «Mentira!». Defensor voltou ao caso do Dia de Portugal para tirar uma ilacção: «É importante para ter credibilidade no exterior ter comportamento isento no interior».
A troca de galhardetes ainda levou Defensor Moura a acusar Cavaco de não ter coragem de olhar os adversários nos olhos e, invocando a sua experiência como negociador, no cargo que desempenhou de presidente da câmara de Viana do Castelo, garantir. «Não sou só portador de tretas e de larachas».
Os ataques a Cavaco, foram até à declaração final, após Defensor ter acusado o antigo ex-primeiro-ministro de ter desbaratado os fundos da União Europeia.
E, com mais acusações de favorecimento à mistura, Defensor disse também que o adversário também era ingrato. «Não é leal, como não foi com Fernando Nogueira [ex-número dois do último Governo de Cavaco, lançado por este para a liderança do PSD] e com Santana Lopes [uma referência a Cavaco ter 'tirado o tapete' a Santana quando este foi primeiro-ministro]»
Defensor ainda disse que o actual inquilino de Belém «não tem cultura política e não conhece a História». Mais uma insinuação, a terminar. «A corrupçao e o clientelismo são os principais cancros do pais e não vejo isso na boca de Cavaco Silva. Terá a ver com o seu percurso?»
Cavaco Silva, mais brando, no final, retorquiu que era uma «pessoa sensata» e, louvou as mulheres, nesta quadra, pelo papel especial a cuidar das crianças e a «fazer milagres» a equilibrar o orçamento doméstico, desejando Bom Natal aos portugueses. Depois, de rosto fechado, levantou-se em direcção a Clara de Sousa, livrando-se rapidamente do microfone, e sem olhar para Defensor Moura.
Este foi o sexto debate da série de embates presidenciais, o segundo de Defensor Moura e o terceiro de Cavaco Silva. Depois de Natal, faltam três frente-a-frente. O último é o esperado Cavaco vs. Alegre.
In Sol, por manuel.a.magalhaes@sol.pt

Nota do Mandatário:
Ricas notas tem Cavaco.
Pois... quando se vê o debate e quando se lê o artigo acima, como é que se justificam as notas atribuídas a Cavaco Silva?
Tenho de pedir opiniões a outros observadores para tirar algumas dúvidas no que diz respeito à objectividade... e não falo só deste debate!
Aurélio Pinto

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