A marca que sobressaiu do único debate entre os dois verdadeiros candidatos presidenciais desta campanha foi o ressurgimento de Manuel Alegre, numa altura em que a sua campanha parecia estar soterrada pelo desinteresse dos eleitores e pelo enorme favoritismo de Cavaco Silva. Mas Alegre ganhou o debate de ontem. E, talvez mais importante do que isso, Cavaco perdeu-o.
O candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco conseguiu surpreender pela forma ponderada com que se apresentou. Explorou muito bem as contradições do adversário e conseguiu falar para os eleitores do centro, o que foi decisivo. Num frente-a-frente em que por mais de uma vez falou na sua concertação com o Governo (por causa dos tais eleitores do centro), Cavaco preferiu entrar ao ataque e mostrar que Alegre tinha "enganado os portugueses". Não o conseguiu. Ficou prisioneiro do seu guião, crispou-se e nem sequer se lembrou de questionar como é que Alegre pode ser apoiado ao mesmo tempo pelos socialistas e pelos bloquistas. Foi arrogante. E facilitou a tarefa ao seu adversário, que tinha de mostrar aos eleitores socialistas que poderão votar Cavaco (não são poucos) uma imagem deste de que eles não gostam. Esteve melhor nas questões dos mercados e do Estado social. Devia ter-se abstido de pessoalizar o caso BPN, mas este tornou-se em definitivo o tema da campanha. E isso é péssimo para Cavaco.
Que consequências terá este debate? No imediato, a constatação de que Alegre regressou. Fez tudo certo, mas um debate não chega para vencer todos os anticorpos. E o caminho para conseguir uma segunda volta ainda é muito difícil. O futuro dirá se conseguiu ou não começar a trilhá-lo ontem.
Texto publicado no Jornal Público de 30/12/2010
O candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco conseguiu surpreender pela forma ponderada com que se apresentou. Explorou muito bem as contradições do adversário e conseguiu falar para os eleitores do centro, o que foi decisivo. Num frente-a-frente em que por mais de uma vez falou na sua concertação com o Governo (por causa dos tais eleitores do centro), Cavaco preferiu entrar ao ataque e mostrar que Alegre tinha "enganado os portugueses". Não o conseguiu. Ficou prisioneiro do seu guião, crispou-se e nem sequer se lembrou de questionar como é que Alegre pode ser apoiado ao mesmo tempo pelos socialistas e pelos bloquistas. Foi arrogante. E facilitou a tarefa ao seu adversário, que tinha de mostrar aos eleitores socialistas que poderão votar Cavaco (não são poucos) uma imagem deste de que eles não gostam. Esteve melhor nas questões dos mercados e do Estado social. Devia ter-se abstido de pessoalizar o caso BPN, mas este tornou-se em definitivo o tema da campanha. E isso é péssimo para Cavaco.
Que consequências terá este debate? No imediato, a constatação de que Alegre regressou. Fez tudo certo, mas um debate não chega para vencer todos os anticorpos. E o caminho para conseguir uma segunda volta ainda é muito difícil. O futuro dirá se conseguiu ou não começar a trilhá-lo ontem.
Texto publicado no Jornal Público de 30/12/2010
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