lundi 29 novembre 2010

Discurso Alegre em Pontault-Combault


Discurso Alegre em Pontault-Combault
Para mim e para os que represento, é um dia inesperado. Um dia grande. Um dia grave. Um dia histórico. Um dia único. Um dia alegre. Um dia Manuel Alegre.
Dizem que somos poucos. Quem ? Nós, os Portugueses. Talvez… Em particular, ainda no que diz respeito à participação cívica e política. Dizem que somos discretos, pior invisíveis, tanto do lado de origem como no país de acolhimento.
O meu compromisso político nasceu da vontade de contradizer esta realidade triste que sei em verdadeira transformação, melhor dito, ouso a palavra revolução. Tranquila mas determinada. Como assim? Comprometi-me para ver um sonho realizado, o sonho de ver os Portugueses plenamente inseridos nas vidas públicas dos seus países. Nas escolas, nas associações, nas freguesias, nas Câmaras, nos Conselhos de todo o género, nas Assembleias da República. Com voz e voz que seja ouvida! Cá e lá.
Apesar das inúmeras dificuldades no caminho, o que me espanta e não exagero quando o digo, todos os dias, é a vitalidade do mundo associativo português, a capacidade das segundas e terceiras gerações afirmarem ser e viverem-se como Portugueses. Continua-se a gritar, por aqui e por ali, para conseguir aulas de português, verbas, locais de vida portuguesa no coração das cidades francesas, geminações, portugalidade, até que enfim!
Dr. Manuel Alegre, volte a Portugal com a certeza que Portugal também está aqui, em França, e na Europa. Para alguns de nós, desde há mais de meio século. Nenhum país deve ter tantos embaixadores pelos quatro cantos do mundo a ser Portugal.
De facto, neste pedaço do meu compromisso político, simplesmente, não me canso de tentar estar à altura desta história do Salto, e desta frase da minha mãe: « Tu não sabes o que chorámos quando deixámos Portugal ».
Sim, Dr. Manuel Alegre, veio ao encontro de pedaços de Portugal e aproveito para ler um poema seu que tantos, tantos rodeios fez as nossas vidas. Um poema vindo à luz, em Julho de 1964 quando chegou, como tantos dos seus compatriotas, em Paris na Gare d’Austerlitz.

Meu Portugal em Paris.
Solitário
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e Abril.
Era um puro país azul e proletário.
Anónimo passava.
E era Portugal
que passava por entre a gente e solitário
nas ruas de Paris.

Vi minha pátria derramada
na Gare de Ausrerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chão. Pedaçosdo meu país.
Restos.
Braços.
Minha pátria sem nada
sem nada
despejada nas ruas de Paris.
E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que não te quis
ou alguém que roubou as flores de Abril?
Solitário por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
Éramos cem duzentos mil?
E caminhávamos. Braços e mãos para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.
O Canto e as Armas (1967)
Um homem que escreveu estas linhas, estes versos, à procura dos seus, à nossa procura, sem outras armas do que palavras, no exílio, só pode ser Presidente da República, de Portugal e de todos os Portugueses!
Com este poema, disse-nos ter caminhado connosco.
Hoje, somos nós, outros filhos de Portugal, filhos destes Portugueses que dizem com orgulho e alegria, aqui, agora, querer caminhar consigo.
Ao seu lado, sempre que precisar e, sempre que Portugal precisar de nós.
Viva este país « onde a terra se acaba e o mar começa, » « este verde azul cinzento » seu!
Viva Portugal !
Viva Manuel Alegre !

Por Nathalie de Oliveira, Autarca e coordenadora da secção do PS português em Metz

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